O Bento comprou um EP para a Festa do Avante. Os camaradas mais assíduos no noticiário nacional deram conta da presença do Bento. Ficaram atónitos, tão surpreendidos como o Bento ficou quando a parte dele que não conseguia controlar quis ditar uma surpresa interior. Do Bento não se pode dizer que seja limítrofe da ideologia consagrada na Festa do Avante. Não há registo de que o Bento seja assinante do jornal. Ele tem feito a pública defesa dos bancos, mesmo quando os bancos são apontados a dedo por quase toda a gente (menos os banqueiros) nesta época de inflação sacrificial e eles, os bancos, alambazados com lucros como não há memória. O Bento é o porta-voz dos bancos. Dele se pode afirmar que é uma voz lídima dos donos que lhe pagam o salário. Há dias, quando os “fascistas” do governo italiano anunciaram a subida do imposto sobre os lucros dos bancos – e os camaradas estarrecidos por não imaginarem andar de braço dado com os “fascistas” italianos... –, o Bento disse, sem corar de vergonha, que os bancos por cá já pagam impostos a mais. Para aumentar o capital de inverosimilhança dos camaradas, o Bento fez check-in para trocar o bilhete em papel pela pulseira da EP. Nenhum dos camaradas chamou nomes ao Bento – ou, o que seria expediente radical, devolveu o dinheiro da EP ao Bento, invocando a reserva de direito de admissão por o Bento, o porta-voz dos bancos, não ser bem-vindo na festa. O Bento andou na festa, de concerto em concerto, visitando as bancas dos partidos irmãos, ouvindo aqui e ali um discreto impropério vociferado por um camarada exaltado que deu pela sua presença. Saiu da festa sem um arranhão (até na autoestima). Os camaradas são civilizados, para surpresa do Bento.
17.8.23
O Bento foi à Festa do Avante (short stories #436)
Royal Blood, “Out of the Black”, in https://www.youtube.com/watch?v=bSdtvfBQd6c
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário