Jogada arriscada: não se deixam à margem os proveitos que podem ser recolhidos na safra do dia. Juram-se muitas oportunidades, que ficam desertas. Muitos são peritos em travar a consagração da teoria, como se uma fortaleza sitiasse a passagem à prática, só para desaprovar a teoria. Ou, talvez, porque a truculência gongórica está na moda e as vozes erguem-se numa maré sumptuosa que depois esmaece assim que aspira derrotar o areal. Estes, timoratos, são as marés aparatosas que se traduzem em ninharias. Os logros que militam na esgrima do desencanto. Se fossem traduzidos em vinho, seriam aqueles vinhos correntes, mal-amados, ou apenas amados pelos inveterados consumidores de estabelecimentos de má linhagem. Se ao menos o cânone mudasse; se não fossemos educados a agarrar o braço das maiorias para delas sermos peões; se não deixássemos amadurecer a letargia que se confunde com obediência, por nos dizerem que de outro modo somos párias: se tudo isto for consagrado, somos mecenas de uma região demarcada. As vozes são instruídas a falar pela sua própria cabeça. Ostentamos os selos de autenticidade que atestam a confiança. Não se adiam os amanhãs na região demarcada. Não se fingem galas onde campeia a frivolidade, as vozes gastas em falas de vacuidade. Um espetáculo decadente, a escrutinar os oráculos que não desmentem um porvir que rima com decadência. Não são precisos degraus planos a desmentir as janelas sobre o amanhã. É preciso investir contra a rotina contundentemente enraizada pelos procuradores da normalidade. A região demarcada é um manifesto contra a normalidade. Contra os procuradores dessa normalidade, viciados na infantilização de quem lhes obedece. A região demarcada não transige com o rapto da identidade. Ela é a própria identidade, vacinada contra as vontades avulsas que se coreografam num mar estreito, sem sal, sem marés, com futuro hipotecado.
16.8.23
Região demarcada (short stories #435)
Prefab Sprout, “When Love Breaks Down”, in https://www.youtube.com/watch?v=QeZkLV3ZjeI
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