É por este veio que o veneno não entra. Para não ser um peão à mercê de generais avulsos, aciona os torreões que filtram as invasões de território. Uma delimitação teimosa paira sobre a covardia. A errância é o critério preferível.
Se for preciso, as sílabas hasteiam-se no seu vagar, propositadamente, para nenhuma ficar para trás. Não vão os condecorados disfarçar o entendimento atrás de duas ou três sílabas que ficaram pela metade, costurando pretextos para a invasão, a coberto de fingirem que o consentimento foi dado. As sílabas metodicamente dardejadas previnem contra o veneno assestado pelos mercenários a soldo da mesquinhez dos que angariam vidas outras.
Enquanto for errância, o paradeiro é incógnito. Não se lobriga o estatuto do sangue insubmisso, os limões arrancados das árvores vertendo um rasto de acidez que trava os agiotas das almas. Enquanto for errância, não há radares que se sobreponham. Serão fundamentadas as hesitações, prováveis as improbabilidades, desacertados os relógios que procuram um estalão legítimo. De mão dada com a errância, a boca vertida no idioma por inaugurar, todo feito de estrofes cinzeladas com a cor do céu vivo. À espera que o pântano das desintenções seja desabitado.
Em vez das sombras tumulares que se abatem sobre a rotina, os pés arregaçam as mangas da errância e crescem com ela. Os amotinados entregam-se aos caminhos avulsos que recusam critérios que os validem. São ruas ao acaso, baldios atravessados como se fosse atrás do contrabando da alma, o mar onde desaguam as preces sem deuses dedicados. A errância é a única matéria escrupulosa.
Enquanto for errante, não será um satélite obrigado a gravitar na órbita de um corpo centrípeto, um corpo todavia estranho. Foge dos rostos seráficos que o sitiam, devolvendo-os à procedência. E diz-lhes, em sussurro, enquanto contempla a sua capitulação, que não se curva perante a indigência proclamada pelos que estão de atalaia aos outros, desformoseando o inventário havido em talhadas retiradas do passado, ao acaso.
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