Não se tirem as medidas pelas urgências que amputam a respiração. Nunca chegamos tarde – nunca-chegamos-tarde, se for preciso repetir à exaustão, até se enraizar a ideia que o tempo não foge; nós é que vamos a fugir do tempo.
Toda a circunstância se move dentro das suas muralhas. Do lado de fora, as conspirações. E as conspirações não podem ser atendidas. Aos conspiradores deixamos a sua geografia e a sua gramática, os vultos que açambarcam a sua lucidez. Não queremos ser colonizados por um bando de canibais dos sentimentos que esvoaça demencialmente, em voos rasantes, procurando obliterar as ideias fecundas que sobem à superfície. Não queremos ser reféns de ninguém.
Este é o paradoxo do tempo: damo-lo como rarefeito e, todavia, ele não se extingue à nossa passagem. É assíduo o movimento que apressa as empreitadas na exata medida da escassez do tempo. Sabemos que o tempo corre contra nós e nós, apalavrando a vingança, arremetemos com toda a fúria contra o tempo. Evocamos uma tempestade em que movimentos de sentido contrário chocam frontalmente. Os despojos apadrinham um cenário devastador: de tanto conspirar contra o tempo que conspira contra nós, somos vítimas da sua inexorável sentença. A nossa soberba é condenada à exaustão do tempo, que se vira do avesso para nos ensinar a sua contingência. Queremos apressá-lo e ele move-se mais depressa do que os nossos desejos.
Talvez ainda vamos a tempo de saber que o tempo é mecenas de um vagar circunspecto. Daremos as boas vitualhas aos druidas que prometerem intemporalidade. Não merecemos esse logro. Atrás da cortina, sem o medo dos que pressentem a finitude do tempo, o tempo move-se num vagar que o aproxima da intemporalidade.
Dessa marcha retesada, guardemos o tempo puro que espera pelas nossas mãos. Guardemos janelas anfitriãs que convocam a ilusão da demora, no que a demora tem de propedêutico. Guardemos as palavras avivadas que suspendem o colóquio do tempo.
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