Paramore, “Burning Down the House”, in https://www.youtube.com/watch?v=I_NKuuQ4Hy0
Denominação de origem protegida, o ocidente fez-se hegemonia. O pensamento nasce de dentro de baias. As palavras obedecem à geografia do contexto. As formatações são impecáveis formas geométricas que não admitem desvios de padrão. A crer na doutrina que nos ocidentaliza, sem pejo.
As alternativas não ajudam à dissidência. São piores. Não se consagram à liberdade, não admitem discrepâncias, que muitas vezes são pagas com a própria vida extinta, outras vezes endossam a fatura da privação da liberdade sem garantias de tratamento imparcial. As alternativas desconfiam dos valores em que não se reveem, atribuem-nos a conspirações fantasiosas. São hediondas e empurram para a ocidentalização necessária. Por falta de alternativas, que é a pior caução do ocidente.
Há outras alternativas, alinhadas na malha onde se tecem as ideias que não chegaram a ser entronizadas, que não são melhores. Algumas querem desocidentalizar através de uma retórica pós-pós-moderna que prospera desde minorias ativistas, transformando-se em programas de cumprimento obrigatório sob pena de pública humilhação dos que os ousam desafiar. Não conseguem fingir a propensão totalitária que não os distingue das alternativas coetâneas que se opõem à ocidentalização.
A ocidentalização parece irremediável. O que não deve ser um salvo-conduto para transigir com a letargia que se vem impondo à boleia dos pergaminhos não recomendáveis das alternativas existentes e das potenciais. Poder-se-ia falar numa deserção de alternativas. E que essa deserção está na medula da doença existencial que trespassa o ocidente. É a ignição para o adormecimento, o ocidente convencido que o hastear os valores de que se diz curador é a fiança contra as alternativas.
O ocidente anestesiado pode ceder, por demissão, às ameaças que começam a despontar por dentro de si mesmo. A sua letargia ateia a indiferença. As vozes que se rebelam dentro do ocidente berram contra a sua indolência, contra os miasmas que se devotam ao oportunismo e fermentam a desconfiança na aptidão para os condenar e para prevenir futuros párias afins. O ocidente está a capitular, inebriado no autoconvencimento da sua superioridade. A arrogância dos que se julgam superiores sempre foi má conselheira. Costuma ser silenciosamente suicida.
Este ocidente subitamente mal parido parece-se cada vez mais com o agente que promove a sua autodestruição. O ocidente tem de ser mais exigente. Nós temos de ser mais exigentes com o Ocidente.
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