9.2.24

Safe control

Bill Ryder-Jones, “This Can’t Go On”, in https://www.youtube.com/watch?v=byUoDKTVEac

(Mote: erupção de um vulcão na Islândia, e a lava que atravessa uma estrada)

Dividimos a meias (se fôssemos eruditos, diríamos “meamos”). Se o vento é democrático, e ninguém dele foge se estiver na rua, tendemos ao proveito mútuo se quisermos partilhar os custos. Se assim não for, corremos o risco de todos juntos perdermos muito mais. 

É desta previdência que falam os que não se esconderam dos problemas. Os que nunca foram de enfiar a cabeça no chão e descobriram soluções para as apoquentações que a todos afligiam. Nunca tiveram tempo para lamentar as arcadas puídas que a providência (para os que acreditam) deixa em nosso regaço, para memória futura. Eles ensinaram o cimento que elide a atomização dos indivíduos antes de haver cimento. 

Seremos gregários porque, ao sê-lo, intuímos uma proteção conjunta? Mas os misantropos, que voluntariamente se excluem do cimento da identidade, também beneficiam da proteção conjunta. Dirão, em abono deste fabrico social, que é a prova da sua superioridade. Não força a pertença, mas não excluiu do usufruto aqueles que se distanciam.

(Não resolve outra pendência: se somos gregários por oportunismo, ou por utilidade – se usarmos alguma bondade – fica provada a natureza individualista. Não somos gregários por adesão espontânea. O que destrói o mito do animal social.) 

Ficamos com o controlo das contingências, dos sobressaltos sempre entendidos como imponderáveis, dos retrocessos que desanimam? A proteção conjunta é desarmada quando atinge os seus limites. Uma catástrofe que salta por cima da previdência estabelecida, um efeito imparável da natureza, a afinal incapacidade dos recursos usados para atalhar uma emergência – tudo põe à prova as fundações que estão antes do cimento que dá corpo a uma identidade comum. Nessa altura, podem as preces acreditar no seu efeito terapêutico, mas este já não é um tempo de crenças heurísticas. 

Somos cada vez mais solipsistas. Somos mais terra a terra. A metafísica prescreveu. Pois se tudo é vontade de deus, as exuberantes e descontroladas manifestações da natureza também o são. Aquelas que terraplanam, sem contemplações, o legado da nossa obra junta.

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