1.2.24

Bodo aos ricos (música de desintervenção, outra vez)

Cara de Espelho, “Político Antropófago”, in https://www.youtube.com/watch?v=U13tItb5CQU

Vem aí o fascismo. O povo ignaro não aprendeu com o passado, ou não sabe de História. E os mais novos? Só por desconhecimento de causa é que não apreciam “conquistas de abril” e são seduzidos pelo fascista emergente que quer implodir a democracia a partir de dentro. Os capitalistas gulosos esfregam as mãos de contentamento: os fascistas sempre foram cúmplices do grande capital, espezinhando os direitos dos trabalhadores. Está-se a montar a tempestade perfeita: os fascistas vão emagrecer as liberdades, para depois as limitarem e, depois ainda, acabarem com muitas delas. A opressão dos mais fracos volta à ordem do dia. Vem aí uma maré gigantesca de retrocesso social. A democracia está por um fio. 

O fascismo vem aí. Vamos denunciar o fascismo, que já deixou de ser latente e se tornou uma ameaça que esbraceja à vista desarmada. Sob o pesadelo desta ameaça, os democratas, os “verdadeiros democratas”, devem um levantamento em honra da democracia. Não se espere que sejam os moderados a cortar a jugular dos fascistas emergentes. Os paninhos quentes são a ignição de uma autofagia militante. Quando os moderados acordarem, já estão encomendados ao cárcere ou ao exílio. Nessa altura, sobrarão os fascistas.

Vem, o fascismo, na dobra da esquina. É preciso mobilizar as forças democráticas nas suas diversas manifestações, para que possam isolar o fascismo, devolvendo-o à página negra da História, nacional e mundial, às estantes das péssimas curiosidades arqueológicas. Se os “verdadeiros democratas” não se pronunciarem, se não esventrarem o fascismo com o poder da palavra certa e da argumentação irrebatível, podem não ir a tempo de se salvarem, dos nos salvarem, do fascismo hediondo. As vozes fundas nunca serão muitas para contar a verdade sobre os fascistas que querem extinguir a democracia. O silêncio será cúmplice dos fascistas. Os moderados, que se dizem democratas (sem o serem autenticamente), têm uma oportunidade única: ou engrossam o coro contra o fascismo e pegam na arma da denúncia, ou serão julgados no mesmo tribunal que condenará os fascistas depostos.

É preciso contar a verdade sobre o fascismo. Honremos a liberdade, como nas saudosamente defuntas soviéticas repúblicas. Protejamos os que se prestam ao papel de oprimidos: já é um fado extenuante: oprimidos durante o fascismo, ainda oprimidos durante o longo consulado “neoliberal”, prometidos outra vez à opressão sob o jugo dos fascistas promitentes. Falemos as horas todas, os dias todos, o tempo sem exaustão, usemos a voz contundente. Não capitulemos aos que se enfaixam na sotaina de moralistas e advertem sobre os efeitos contraproducentes de tamanha vozearia (dizem, convencidos da sua razão, que elevar os fascistas ao pináculo só lhes traz mais votantes – mas eles estão errados, não são “verdadeiros democratas”).

Ou então, sopremos a poeira da música de intervenção e usemo-la como arma de destruição maciça dos fascistas que se contagiam como uma praga. Na qualidade de músicos de intervenção, entreguemo-nos ao pesadelo que não queremos, mas que parece corresponder ao nosso íntimo desejo: pois se não houvesse fascistas, e se o anátema da opressão dos desfavorecidos não pesasse tanto, numa vergonhosa recuperação do passado, como é que os músicos de intervenção intervinham? 

(Continua)

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