11.12.24

O sexo pequeno dos machos-alfa que juram retaliar com sexo contra as mulheres de que não gostam

Electric Wizzard, “Barbarian”, in https://www.youtube.com/watch?v=O-GhkfrfqZ0

Na peça de teatro “Homens Hediondos”, de David Foster Wallace, o ator que protagoniza o monólogo teoriza sobre dois arquétipos de homem: o porco básico e o grande amante. O porco básico serve-se sexualmente das mulheres, que não passam de objetos para o seu prazer egoísta. O maior amante é o que centra todo o seu egoísmo na mulher, vinculando-a ao prazer de que o maior amante se confessa serviçal. São duas e opostas maneiras de um homem exteriorizar egoísmo no ato sexual. No primeiro caso, porque a mulher é desprezada no altar do prazer egoísta do porco básico. No segundo caso, como tudo é encenado pelo maior amante para colocar a mulher no centro do palco dos prazeres carnais, reprimindo o seu próprio prazer, não é desprendimento nem altruísmo a favor da mulher: é uma forma de inverter o egoísmo e de carregar na mulher a assimetria de um ato em que os dois deviam ter prazer.

A evocação da peça de teatro vem a propósito da notícia da condenação do neonazi Mário Machado por ter incentivado à violação de mulheres de esquerda. A violação transcende o mero ato sexual, pois a violência usada e a subjugação da mulher à vontade do violador não correspondem à natureza do ato bilateral quando o sexo é consensual. Mas uma violação também tem a componente sexual. Não se consegue separar uma violação da sua natureza sexual. 

Parto deste pressuposto para a análise dos Machados do couto lusitano, esses machos alfa que ainda poluem a nossa existência. O que inquieta é haver alguém que jura sexo (não consentido) como forma de punição de quem deles diverge. É sexo como castigo, não sexo como prazer – eventualmente (e já se perceberá o porquê do advérbio condicional) –, não sexo como prazer a (pelo menos) dois. Quem se situa neste palco, considera legítimo forçar uma mulher, obrigando-a ao ato sexual para a castigar e humilhar, afirmando a posição de força do homem que recorre à violação. É um sexo punitivo e primitivo que subverte a ideia de sexo como consequência do consentimento a (pelo menos) dois, do sexo como sinalagma, sem violentar a vontade de um dos envolvidos. 

Usar o sexo como arsenal de castigo é excluir o prazer que faz parte do sexo. Se for para castigar uma mulher de que se diverge, não só é patológico e criminoso como é uma contradição de termos: castiga-se com o que teoricamente dá prazer. Quem dá prazer não castiga. Eis a teia emaranhada de contradições em que se afundam os Machados do couto lusitano. Confere com a sua linhagem de bárbaros.

Estes machos alfa, que atropelam a vontade de uma mulher punindo-a com sexo à força, devem ser aqueles que não sabem o que é o sexo, a não ser na sua muito egoísta conceção dos prazeres carnais que não saem dos limites do seu eu. Descontando o mal que é feito às mulheres violadas (ou com juras de violação), não haverá grande diferença entre um espécime destes e o onanista que se refugia no auto-prazer por incapacidade de se relacionar na intimidade com outros(a)s. Estes violadores por delito de ideologia nunca devem ter dado prazer a uma mulher. No seu íntimo, sentem-se frustrados por isso.

Os machos alfa não sabem o que é sexo. São misantropos sexuais – ou gente que abre as goelas, confundindo façanhas sexuais com um crime grotesco, gente que tem uma conceção pequenina e mesquinha do que é o sexo. Tocando na ferida que prezam em manter escondida, são autores de um sexo pequenino (não confundir com um pequeno sexo). São pior do que os porcos básicos. São doentes mentais, sem que possam ser declarados inimputáveis. 

Por mais que hasteiem loas apenas auto-convincentes à sua desenvoltura sexual, são uns pobres incapazes que merecem ser denunciados enquanto eunucos sexuais (metaforicamente falando). Muito falam de si, e com garbo, sem haver quem corrobore o autoelogio. Vingam-se das suas fraquezas, idealizando a pose de imperadores a quem são servidas, à revelia da sua vontade e como corretivo, as mulheres sacrificiais a que não importa apurar a vontade. 

São a casta máxima dos masculinos frustrados. No alargamento da dicotomia de David Foster Wallace a uma terceira categoria, seriam os eunucos do sexo. 

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