6.3.17

Desaprendizagem


Neil Young, “Harvest Moon”, in https://www.youtube.com/watch?v=n2MtEsrcTTs    
Estultos os tempos que vão de passagem. Poder-se-ia dizer, em abono de um ânimo qualquer, que os tempos assim configurados estão de passagem e, em o estando, hão de ter um adeus. Porventura, não há chão para tamanha esperança. Talvez num assomo de indeclinável ceticismo, se os tempos hodiernos, já de si tão estultos, estiverem de partida, adivinha-se (pelo andar das modas) que os tempos que virão em seu lugar cuidarão de arregimentar ainda mais estultícia.
Tudo isto a propósito de aprender que parece um crime. Desmerece-se algum formalismo, desmerecem-se conteúdos dantes ensinados, que agora o que mais conta é não incomodar os aprendentes, não vão os pobres saldar a experiência da aprendizagem por uma depressão ou coisa parecida. Pois algumas almas iluminadas (se calhar, mal iluminadas) lhes afiançaram que por diante havia um mar imenso de expectativas e que ninguém tem legitimidade para espalhar obstáculos no caminho. Que se entenda a anterior formulação para os devidos efeitos: os que ensinam não existem para tornar infernal a vida dos estudantes; em homenagem a um módico de rigor, podem é não contemporizar com facilidades com institucional rosto que hoje quadram com a aprendizagem.
Parece que o sistema atual foi criado para premiar os poltrões. Em abono da teoria, virá um exército de gente bem-pensante a coligir argumentos para a reinvenção do ensino (que, no fundo, passa pela destruição da aprendizagem): os jovens não devem ser sobressaltados com as minudências do ensino formal e da sua substância, pois podem perder um naco importante de uma parte da vida a que não regressam quando dela sentirem saudades. A aprendizagem entra em roda livre. Aos aprendentes garante-se uma plêiade de direitos e não se exigem deveres. Ato contínuo, e de forma abusiva, os arquitetos da modalidade chamam “ensino democrático”. Os que têm o papel de ensinar são quase dispensáveis (o que também convém a alguns que têm pavor das salas de aula).
Talvez o exposto soe a conservadorismo de má cepa. Muito me custa levar com tamanho rótulo, pois abjuro o que tenha conservadora conotação. Julgo que não será o caso para imediatamente pespegar um rótulo conservador. Talvez convenha aos aduladores da desaprendizagem em ação, pois os detratores são arrumados a um canto com um julgamento ad persona, sem discussão de ideias. Mantenho: não é conservadorismo acusar este sistema de aprendizagem de a ter transfigurado numa desaprendizagem. É a observação de quem leva quase um quarto de século na função.

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