Damon Albarn, “Everyday
Robots”, in https://www.youtube.com/watch?v=rjbiUj-FD-o
O sono tumular não é bom conselheiro.
Nem tão-pouco ser um bom madraço, ainda que seja tomando conta da ideia de que
o tempo tem de correr devagar. Tudo é um rumor singular. Desenganem-se os que
admitem que o tempo se repete só para não terem de temperar os desafios com
anotação futura.
O corpo, que se entregue às coisas não
rituais. Que os olhos não se despenhem sempre nas mesmas leituras. Sobranceiro ao
parapeito delgado, por onde o corpo se intimida, há paisagens bucólicas que os
olhos não conheciam. Tingem-se as fazendas nobres, e as menos nobres, com as
cores macias que extasiam os sentidos. Que não se aceite – e se denuncie a preceito
– a letargia assinada em páginas iguais. Entregue-se o corpo à montanha russa,
mesmo que o sobressalto dele se apodere nos solavancos inesperados, nas subidas
e descidas íngremes e sem pré-aviso, no vagar do corpo que dá lugar a um frémito
repentino.
O corpo fica adestrado para os
imprevistos que plano nenhum é capaz de sopesar. Continuará a haver uma
montanha russa, várias montanhas russas, por experimentar. Até aquelas que não
se queria experimentar. O corpo terá as cicatrizes capazes para arcar com as demandas
sem anotação no caderno de encargos. O tirocínio exige criteriosa seleção das
demandas. Por vezes compreende-se, com o devido erro não estimado, que uma
demanda pode conter risco, um risco tão grande que intimide à partida. A avaliação
a destempo não propicia critério razoável. Que não se tirem conclusões antes do
tempo. Em tudo se tornando arrevesada função, sobrepesam as incógnitas que não
deixam espreitar uma nesga sobre a matéria intransitável do porvir.
Só os penhorados do tempo presente
dele se esquecem para procurarem destapar o véu do porvir. Oxalá conseguissem,
como método alternativo, embarcar numa montanha russa e saber que, enquanto
passageiros dela, o portal do tempo abre-se num hiato e o tempo mete-se num parêntesis.
Não é negação do tempo que chega às mãos de cada um. Às vezes, é preciso
encontrar um tempo vertical, uma imagem (idílica ou não, não interessa) onde se
apascentam os sonhos que dão corda aos passos alinhavados no tempo vivo.
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