Hot Chip, “One Life Stand”
(live in Sidney), in https://www.youtube.com/watch?v=hX5ywJBSuFM
Uma interjeição ao acaso, só para
se ver o rosto perplexo na embocadura das ideias arrevesadas, no restolho de
palavras que não passam de notas de rodapé. E pensas: “tudo tem um remédio. Tudo.”
Parece que o absolutismo da
proclamação não admite exceções. De nada valerá alguém contrapor que as
certezas categóricas são as mais frágeis certezas de que o conhecimento humano
tem conhecimento – ou, se for mais ousado, protestar que essas certezas
correspondem a não conhecimento. Insistes e sublinhas a ideia matriz: “tenho a certeza do que falo. Há os remédios
acertados por convenção. Os remédios espontâneos. E os remédios que são a instância
final. Sempre, remédios.” Nem um esgar de desaprovação possibilita, ao
menos, um segundo pensamento sobre o assunto. Dirás o que disseste e não
admites mudança de posição. Fica por saber se é por convicção firme ou por mera
teimosia, de como quem se recusa de dar o braço a torcer até quando irrefutáveis
provas se jogam contra as categóricas certezas. Não admites que o teu rosto
caia com a refutação de uma ideia.
(Porque consideras que o malogro
da ideia faz cair o rosto, o que é profundamente errado: uma ideia refutada não
tem a humilhação como punição.)
Alguém, mais impiedoso, te dirá: “esses teus são remédios baratos.” E, ao
dizê-lo, intui uma subcategoria na escala dos remédios ao pensar nos que
ofereces como argumentação. Não te demoves. Terás de retorquir (sim, terás:
porque em tão afirmativas certezas, um silêncio não contesta as objeções que o
queiram destruir): “não me é dado a saber
que a matéria parcimoniosa seja de inferiores pergaminhos.” E por mais que estejas
acantonado numa trincheira rarefeita de gente, mais cerras os punhos em defesa
dos teus argumentos. Já apenas teimosamente. Pouco importa se alguns te
consideram risível. Não te importam as convicções dos outros. Nem te assalta a
ideia de seres enxovalhado pelos que de ti escarnecem. “Uma pessoa não é inteira se povoar as suas ideias na imagem que os
outros fazem”, dirás em forma de conclusão.
Um lobo não deixa de ser lobo por
ser um solitário lobo. Os remédios módicos não deixam de ser remédios. Oxalá outros
tivessem a noção do aforro que proporcionam. A diferença entre os dispendiosos
e os não dispendiosos remédios é uma questão de formato; não diferem no conteúdo.
Astutos são os que não se deixam anestesiar pela fábula do consumo e escolhem
os baratos remédios.
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