27.10.21

Devoluto

No Words Left, “Because of Ghosts”, in https://www.youtube.com/watch?v=DSQZtk7hsec

Não é por esta circunstância que devolvemos o grito fundado à gruta de onde se sublevou. As vozes não são para serem caladas. As vozes falam. Esse é o seu destino. Não queiram que sejam as mordaças a bordar a bandeira que desce o silêncio sobre todos. Não queiram que as pessoas sejam a sua própria intimidação, castradas no povoar dos sentimentos que as habitam como um caudal irrefreável.

Não são as contradições que lesam o direito de considerarmos as circunstâncias. Não se pode estorvar os julgamentos, por mais obnóxios, ou absurdos, ou militantes de um qualquer bolçar. Os eruditos protestam contra o acesso universal à opinião e como ela se banalizou sob o disfarce da democracia. Os eruditos sempre conviveram mal com a concorrência. Até com a concorrência que, por manifesta incapacidade, não chega a ser concorrência. Deixemos os eruditos nas suas torres de babel. Viremos a página.

Os contratempos adejam com a coreografia apascentada pelo vento. Não se anunciam no tempo vindouro. Esbarram nos corpos que se fingem contrafeitos. Se o contrabando não fosse um disfarce sem bússola, dir-se-ia que servia ao propósito de aplacar os contratempos. A ser assim, seríamos devolutos numa cidade rasurada pelo medo, numa cidade viciada pelo futuro sem procuração. Mas não somos assim. Insurgimo-nos contra a devolução aos lugares que se enciumaram contra a nossa vontade. Afirmamos a vontade como um império insubmisso. E terçamos as armas necessárias contra os patíbulos que se insinuam no céu toldado.

À corrupção das almas dizemos não. Um não contundente. Não queremos ser caiados pelos prefaciadores da usura que rima com os tempos que receberam a bênção dos bispos dominantes. Não queremos os maestros que usurpam as vozes e as tomam como prova viva da sua. Esses regentes, convencidos da sua predestinada condição, destinamo-los à devolução aos corredores estreitos onde habitam os que os querem saber como gurus. 

Nós não precisamos de arietes que se fazem passar por porta-vozes das vozes que nos contrabandeiam. Nós só queremos que não tenham a veleidade de a nós se sobreporem, tingindo a nossa vontade com a sua arbitrária vontade. Queremos fugir para um ermo lugar, de onde não haja ecos, sequer, da sua existência. O exílio interior, marca indelével da nossa condição.

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