14.10.21

Marca registada

Bonobo, “Rosewood”, in https://www.youtube.com/watch?v=o86icu6iI2U

Esta é a minha pele. O seu sal, único. O sangue que corre em ebulição, mesmo quando o sono habilita a hibernação e suspende o tempo, irrepetível. Estas são as minhas cicatrizes. Um modo de ostentar as feridas de outrora, ou apenas uma mnemónica que coloniza o tempo vindouro. Uma marca registada, inconfundível. 

Todos somos inconfundíveis, portadores de uma marca registada, exclusiva. É o que determina a irrelevância da marca registada de cada um. Não se imagina a necessidade da diferença sem justificar como somos, à nossa maneira, peças únicas que coabitam no universo feito da semelhança. Apuramos os sentidos no caudal por onde somos testemunhas da nossa carne inconfundível. 

A marca registada transporta o selo da genética. Sendo úberes da semelhança (enquanto espécie), somos embaixadores dos atributos que são matéria exclusiva do nosso ser. Há quem confunda os termos da equação e preconize a aglutinação de todos nós sob o chapéu protetor do grupo. Supõem que o que nos distingue é uma minúscula gota de água no vasto oceano onde reside a espécie. Tendem a desvalorizar a marca registada que é a voz única de cada pessoa. Talvez o façam por esquizofrenia, pois não entendem a dicotomia entre a singularidade de cada um e a sua pertença a um grupo. Presos a um erro de raciocínio, condenam o ser pela sua exiguidade, forçando-o a atuar sob os auspícios de uma vontade coletiva que é tão difícil de apurar. Fingem não saber da singularidade que nos distingue de todos os outros. Fingem ocultar a validade da marca registada tatuada na pele de cada um. 

Sobre o seu olhar deita-se uma noite que se tresmalha, a negação do que neles se exprime na mesma medida em que o desvalorizam quando atestam a supremacia do grupo. Por mais que sejam forjadas identidades que sublimem a pertença ao grupo, não se sabe das marcas registadas que sejam sinónimos de grupos.

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