12.10.21

Só as mentes pequeninas é que indagam sobre os que são maiores

David Bowie, “Absolute Beginners”, in https://www.youtube.com/watch?v=iCJLOXqnT2I

O plumitivo perora na televisão, cheio de certezas e com aquela pose ostensiva de quem sabe ser tutor de certezas muitas e incontestáveis. Sentencia: a banda x era a maior do mundo, mas agora está em decadência; à qual não será alheio o envelhecimento e, talvez, a fadiga e uma crise de criatividade dos músicos. Prossegue o julgamento: a banda x vai perder o lugar cimeiro para a banda y.

Que ao plumitivo não seja dado considerar que na música (e nas artes, em geral) a subjetividade mata à nascença qualquer imperativo categórico, não causa surpresa. Se o plumitivo se dá a conhecer pelas suas opiniões vinculativas, pela contundência do bolçado para consumo da audiência, sempre naquele jeito autoconvencido de quem sabe estar a falar de cátedra, não é de estranhar que ele torça (ou ignore, melhor dizendo) a inata subjetividade das artes e dogmatize com a chancela de quem aniquila a subjetividade interpretativa das artes (pelo menos, de toda aquela subjetividade que não estiver em concordância com a dele).

Esta é uma tendência que abona as almas pequeninas. Como são pequeninas, precisam de enaltecer a grandeza dos que, aos seus olhos, grandes são. É a compensação da sua pequenez. Como se, ao atestarem a grandiloquência dos grandes, estas almas pequeninas se escondessem do que são, furtivamente sonhadas na grandeza que em sonhos desejariam ser. 

O seu subjetivismo objetivo só os vincula a eles mesmos. Para bem de todos nós, e da espécie humana em particular, a subjetividade das artes não é hipotecada porque uns pacóvios decretam sentenças que a adulteram. E o pior é que, de tão apedeutas serem, estas almas pequeninas nem percebem que chegaria uma breve declinação nas frases sentenciadas para não caírem no logro do subjetivismo objetivado: era só complementarem a sentença com o humilde “na minha opinião” (des-sentenciando a sentença).

Mas as almas pequeninas nunca conseguem percebem o nanismo do casulo em que lobrigam. Até porque os grandes não precisam de se exibir como tal. Sabem que são grandes. O demais silêncio é a manifestação mais produtiva da sua grandeza. Admite-se que eles dispensam as almas pequeninas como suas embaixadoras. Ninguém lhes encomendou a incumbência.

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