O efeito dandy da modernidade: não se esportula o chão se ele está ávido de travessuras. Pode-se falar de diabruras inocentes ou das que entronizam a maldade. Os intérpretes disfarçam-se sob o véu líquido que esconde a sua transparência. Mas não são transparentes. Se não, tinham de embaciar o pano da maldade, que só se conheceria depois da sua congeminação produzir efeitos.
Diz-se: o advogado do diabo. Contudo, o diabo não precisa de advogado. Defende-se em causa própria. Aliás: não se defende; ataca, inapelavelmente, antes que as vítimas, escolhidas a dedo ou apanhadas no alpendre do aleatório, tomem conhecimento da sua condição. Por que precisariam os diabos de um advogado que os defenda? Até os piores facínoras, cujos crimes ascendem à vista desarmada mesmo antes de serem levados a juízo, têm direito a organizar uma defesa perante as acusações. O diabo também precisa de um advogado se for apanhado pelos tentáculos da justiça e for levado a julgamento.
Mas o diabo dispensa o advogado. É o seu próprio advogado. As travessuras, independentemente do seu jaez, aderem a alguma intencionalidade. Não são um adorno da negligência. Como entidade dolosa, o diabo tem consciência dos atos. O orgulho de ser quem leva-o a prescindir de um advogado. Ele constitui-se advogado de si mesmo. Não para o exterior, que não reconhece como legítima a lava da justiça dos Homens. O diabo é o seu próprio advogado para poder continuar a executar as iniquidades que o distinguem.
No limite, o advogado nem precisa de ser o advogado de si mesmo. Ele não é sindicável pela consciência. Não tem consciência. O cortejo de crueldades tem o condão de arrastar uma procissão de vítimas. E o diabo não se comisera das vítimas que semeia. Por que haveria de ter um advogado?
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