As mãos tecem os socalcos nas vindimas do olhar insaciável. São escultoras, a paisagem é o seu torno. Silenciosa, a penumbra que se abate abriga as quimeras. O dia terminal não se extingue. Entrega as chaves do dia consecutivo, outra aventura que irrompe no dorso da luz boreal.
A voz engasga-se. Por um momento, tartamudeia. É como se as sílabas tropeçassem nos espinhos da boca e esta não pronunciasse as palavras demenciais que enfeitam a moldura do tempo. É preciso arregaçar as mangas da vontade e encurvar o arnês contra os verbos assassinos que se disfarçam de poemas. Não, não são os soturnos embalos que entregam o leito venal que é nossa corruptela. As miragens habitam por dentro da imaginação. Se as fossemos sondar, saberíamos que não há chão para receber os pés. E nem assim nos desapossamos delas.
Atrás da noite esconde-se o magma críptico. Dá as voltas no espelho ostensivo que afeiçoa a gramática do tempo vivido. O magma ascende, vagarosamente. Ateia a combustão interior que desassossega o sono sinuoso. A partição dos lugares ausentes não refrigera as almas importunadas. Habituadas aos contratempos, supõem ser apenas mais uma cicatriz tatuada na pele. As dores havidas não compensam o estridente sino que silencia todas as falas. Ninguém sabe: o vulcão esquecido dará conta da sua existência. Não estava extinto, ao contrário das melhores notícias. Virá no atlas, assim redesenhado.
O magma funde-se nas paredes das veias que se desembaraçam do dia constante. A combustão é a nota promissória dos poemas nascituros. As estrofes promitentes descem do pensamento e começam a desenhar a folha, vestindo-lhe o lado corpóreo. A lava vertida na folha de papel são lágrimas retesadas por quem teimou em recusá-las. O vento atrasa a viagem, como se soubesse da opulência em espera quando o vulcão deixar de ser esquecido.
Cintado na fronteira do saber, o vulcão exige o lugar que tinha sido vedado. Redesenha a paisagem, com a destreza dos deuses anónimos que se congeminam por dentro das veias saqueadas. Estes são os despojos empossados na paisagem reinventada. Os novos socalcos esperam pela mão arquiteta, diligente, que há de ser suserana.
Sem comentários:
Enviar um comentário