Mogwai, “Pat Stains”, in https://www.youtube.com/watch?v=jAX7tKZ-3lg
A ponte arranca os medos ao panteão dos sonhos. Deixa o caminho atapetado para o desembaraço do lado lunar que se encerra no labirinto não frequentado. No labirinto em que sabemos haver um vestígio nosso, mas que recusamos habitar. As vozes acotovelam-se na fina camada de horizonte que se antecipa antes que as palavras se sublevem. Como num acerto de contas e a álgebra circulasse pelo interior das veias.
Tal como o sol desponta a uma certa hora, nos antípodas valida-se o entardecer. Encena-se frequentemente o avesso mútuo. Ou o avesso de cada um de nós. O perene teatro que se congemina não se liberta da pele que vestimos para sublimar o fingimento. Dizemos: tudo, ou quase tudo, à nossa volta é fingimento. Vestimos o avesso para ficarmos apessoados para um lugar que tem esta linhagem. Um lugar de que somos um módico, sem o confessarmos.
Que ninguém se embeba no papel de apóstolo da superioridade moral. A lei geral do avesso não deixa vivalma de fora. A catarse individual fica por conta das regras avalizadas por cada um. O resto fica noutra geografia: dessa geografia cuida o respetivo tutor, sem interferência dos demais. É a cada um que compete tourear o seu avesso, sem o ter como abcesso nem como promissória para um fingimento monumental.
Se alguém vacilar, pergunte-se-lhe pelo paradeiro do seu avesso. Talvez seja das melhores medidas para estimar a profundidade da mitomania. Eles que venham a palco. Deixemo-los atuar, sem guião. E se houver a leve desconfiança que fingem o seu próprio fingimento, faça-se soar um estridente alarme para os chamar à terra. Eles que se convençam que a nudez do avesso pode ser o melhor exercício heurístico, mesmo para os que se consideram heróis de si mesmos e juram de si tudo saber.
Se o princípio geral do avesso fosse desembaraçado sem aceitar exceções, o avesso deixaria de o ser. O lado escondido passaria a ser a simetria do rosto revelado, sem distinções do rosto arrevesado que se esconde num biombo avulso. As diferenças entre um lado e o seu avesso seriam abolidas e deixar-se-ia de invocar o avesso, como se o avesso fosse proibido. Em tais preparos, seríamos todos reféns da previsibilidade.
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