Há aquele arroubo de conservadorismo quando a tendência estrutural para o estabelecido é desafiada porque houve países que mudaram de nome. Mesmo entre os que não se têm em conta de conservadores. Pois estamos habituados a que o nome de um país seja o nome que vem de trás, dos bancos da escola, e os novos tempos apresentam a vontade desse país ser tratado por um novo nome. Mexe com os alicerces estabelecidos, mesmo para os que têm menos propensão para o conservadorismo.
A reação instintiva é olharmos para o rebatismo do país com incómodo. É uma maçada, termos de refazer os quadros mentais (como se fosse esse o caso) para nos habituarmos a chamar o país pelo seu novo nome. Invetivamos mentalmente os líderes do país que decidiram apresentar-se ao mundo sob um novo nome – há tanto tempo que tratávamos o país pelo nome que aprendemos na escola e agora temos de mudar de hábitos. Raramente queremos saber o que levou o país a mudar de nome. O que diz muito do nosso (infundamentado) incómodo.
A Holanda já não é Holanda. Agora vamos aos Países Baixos e os seus nacionais são neerlandeses. A República Checa já não é a República Checa. Agora vamos à Chéquia, mas os seus nacionais continuam a ser checos. A Turquia, parecendo enredar-se num mero capricho para levantar a cancela à entrada da Suécia e da Finlândia na NATO, exige ser tratada por Türkyie. Alguns destes países levam a mal se os continuarmos a tratá-los pelos nomes desatualizados. E, outra vez instintivamente, reagimos com desconforto; a birra do país rebatizado traduz-se numa imposição sobre a nossa vontade. Mas, no fundo, somos nós, afinal tão reféns do conservadorismo que muitos recusam, que viramos do avesso a reação e não queremos sair do casulo em que vivemos acantonados.
Pois os países também mudam de nome e têm todo o direito a fazê-lo. Nós, que não temos a cidadania desses países, temos de nos libertar das amarras do ensimesmamento e recolher informação para saber o que motivou a alteração do nome do país. Ou, se não quisermos ter esse trabalho, devemos abdicar do etnocentrismo pessoal para reconhecer a legitimidade de um país mudar de nome. Se as pessoas o podem fazer e ninguém contesta, porque havemos de ser renitentes em admitir que um país possa pedir que o chamem por um nome diferente daquele a que estávamos habituados.
Sem comentários:
Enviar um comentário