Os furões, com a mania de serem antes dos demais, esfacelam os caminhos habituais. Estão convencidos que existe um atalho que lhes dará vantagem. Começam a indagação. Nada se faz sem esforço. Nada se alcança sem sentido – e o sentido arremata-se com os planos sortidos na diligência do estirador.
Os atalhos não fazem parte da cartografia. São buracos negros, não pertencem sequer à geografia. Mas os furões são tão espertos que intuem a existência de atalhos. Se for preciso, serão eles os arquitetos e depois os engenheiros dos atalhos necessários. Como não fazem parceria com os geógrafos, os atalhos não são inventariados na cartografia.
Os atalhos são uma epístola das coisas que não são visíveis ao olhar comum por serem subterrâneas. Entrecruzam-se, por ser numerosa a casta de furões que, não contentes com a prestabilidade da igualdade (sempre tão democrática), espreitam pelo periscópio para seu ser o olhar mais empolado. Não guardam fatura nem declaram os proventos. São tantas as vantagens que os próprios furões ficam perplexos por serem uma casta que podia arregimentar uma pertença mais numerosa. É tudo tão fácil, os atalhos mesmo à mão de semear, e um contingente abundante não mexe um dedo para esgaivar o seu próprio atalho.
Elegantes análises sociológicas dividir-se-iam sobre o diagnóstico: uns argumentariam com a preguiça indelével dos que podiam ser furões, outros, não tão céticos, diriam que os que recusam engrossar o exército dos furões têm um sentido íntegro de cidadania. As divergências entre o escol são irrelevantes para os furões. Notam, contudo, um efeito de contágio. Os furões potenciais, quando distinguem as vantagens que lhes podem calhar no alforge, não querem ficar para trás. Os lorpas é que ficam para trás, a léguas das regalias de quem lança um atalho ao atapetado em que todos somos peões.
Os atalhos pertencem a uma cidade subterrânea, onde se movem os que avançam na iniciativa de serem peças à margem dos cânones. Movem-se, libertinos, atrás da cortina baça que os esconde dos demais. Não se importam que os diligentes cumpridores dos cânones sejam prejudicados. Para ser furão não é preciso conhecimentos acima da média nem portas especialmente abertas. Está ao alcance do comum dos mortais. Eles, furões, são os lídimos descolonizadores da autoridade. E dizem, seguros da superioridade moral que se confunde com pura indigência: só não é furão quem não quer – não há nada mais democrático.
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