O pesadelo aferido pelo marégrafo: numa floresta-labirinto, verte-se o ciciar dos vultos na noite demorada. O corpo avança. Não sabe para onde vai. Segue, apenas, pressentindo ser essa a ação para o libertar do jugo dos vultos que o perseguem. Parece um jogo do gato e do rato. Um perseguidor e um perseguido. Aquele não consegue chegar às imediações deste. No papel de perseguido, teme que deixe de haver território entre os dois. Teme ser aprisionado. Não sabe quem o persegue. Não consegue arrotear as funções que poderiam habilitar a caçada. Sabe que não é vitualha da podridão. Quanto aos costumes, a dilação não o coloca fora da média. Tudo isto atravessa o pensamento sem deixar de percorrer os caminhos herméticos da floresta-labirinto. A seu favor, a noite aproxima-se do ocaso. Intui que os vultos serão devolvidos à coutada quando a primeira luz clara começar a depor a noite. Tropeça, a certa altura, numa raiz de árvore dissimulada sob os despojos do outono. O ciciar dos vultos não ficou mais próximo; extinguiu-se, por uma brevidade – essa é a desconfiança que o percorre. O passar do tempo, aproveitado para resgatar forças que a demorada noite exauriu, confirmou a extinção dos vultos. Continua a desconfiar. Por que maré propícia os vultos cessariam a perseguição? Terão sido informados que o labéu que sobre ele pendia era indevido? Se calhar, foi o derribamento inopinado que invalidou os vultos. A raiz da árvore escondida sob os escombros do outono foi um trunfo a seu favor. Os vultos terão continuado a demanda, aproveitando a boleia da noite. A sua hipocrisia é como a luz do dia para os albinos. Ele, de repente, deixou de ser presa e passou a ser indiferente. Mesmo em cima da meta, como atesta a configuração da manhã.
1.8.22
Em cima da meta (short stories #390)
Thievery Corporation, “Until the Morning”, in https://www.youtube.com/watch?v=hpoI6pv3rIQ
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