Não contes nada. Não faças de conta que os que estão lá fora são piedosos. Não finjas que o mundo não paga para ver o ridículo matar o mais próximo. Não sejas da mesma fibra do mundo. Não me leves a jogo. A esse jogo.
Devia saber que não configuro uma pertença. Devias saber o mesmo. Se forem forjadas alianças espúrias – porque, dizes, há oportunidades que se escondem atrás de ausências – adultera-se o sangue que incendeia as veias. Talvez o sangue se aplaque. Talvez passe a ser sangue domado, descontaminado. Será a exposição aos demais que admite a moderação dos sonhos.
Não estou convencido. Mais me parece que as pessoas continuam a não ser credoras de confiança. Pois elas insinuam-se e são as primeiras a deixar um punhal que friamente trespassa a carne. Os trunfos levados a jogo são escassos e de nulo efeito. Antes assim. Digo que um trunfo é um expediente que reserva as fragilidades para os biombos que as escondem. É onde se oferecem os ardilosos. Eu continuo a não aprender e teimo em distanciar-me do fingimento.
Trazes-me a jogo. Mesmo sabendo que não estou convencido da bondade do tabuleiro onde ele se joga, da lisura de quem nele terça armas, quase sempre desleais. Se os cânones não estivessem sujeitos à vontade avulsa de quem os convoca, talvez houvesse serventia no jogo. Mas as condutas são de uma cidade onde os mandantes esculpem os cânones a seu bel-prazer. Não podemos confiar. Somos meros peões à mercê do arbítrio. Não é a palavra que se valida na antítese deste lugar e dos seus generais.
Por isso, situo-me fora de jogo. Ou além do jogo, como se houvesse, nos interstícios das falas, um patamar escondido onde só habitam os que de sua vontade fizeram exílio. Ficar fora de jogo não é uma fuga entretecida no gelo insincero da hipocrisia. É um endereço para os que se evadem da matéria invalidada pela espada arbitrária que se abate sobre os inocentes. Sobre os inocentes que são feitos vítimas à mercê dos generais sem escrúpulos, dos que chamam a si a faca maior e partem, a seu favor e dos que pertencem ao séquito, a fatia maior.
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