O berbequim incessante, como um arnês desprendido a deixar o corpo num ermo que se chama precipício. A queda livre: talvez, uma armadura lisérgica a ocupar-se do tempo, ou o refúgio imperativo de um lugar pútrido.
Ou talvez sejam dores sem sentido, uma anestesia a atravessar os vasos capilares, adormecendo no regaço de um sonho. O lugar não é pútrido, porque os dias piores são os que forem herdados na ausência de tudo. É então que sobe à tona a “devastação inteligente”: uma tempestuosa desafeição das coisas que povoam os sobressaltos, deitando por terra os pesares para abrigar uma hibernação feita de luares fora do tempo num planisfério desenhado à medida, usando um estirador com o selo das quimeras.
Disto dirão os relapsos, em forma de rejeição, tratar-se de alienação. Não interessa. A razão é apenas um tentáculo das abundantes fontes de desrazão que misturam os sinais obedecidos e esvaziam a utilidade das bússolas. Se quiserem apurar a alienação deste estado, ninguém os impede. Pois este é um estado em que a “devastação inteligente” passa por cima das arestas que cumprem as cicatrizes, transformando-as em tatuagens com prazo de validade. E nós, a tutelar essa validade e a dispor o prazo correspondente.
Os cidadãos válidos atestam que os seus pés estão assentes no chão. Não é metáfora. Os rios que rasgam a serrania podiam descrever a improbabilidade das hipóteses que não se confirma. Antes de se saber do caudal quando a várzea enfim deixa descansar o rio, ninguém diria como as águas tiveram de ultrapassar uma corrida de obstáculos até chegarem ao seu estado adulto. Se fosse possível descobrir como era a serrania antes de ser rasgada pelo rio tumultuoso, todos diriam, sem o cálculo das probabilidades, que a água não conseguiria domar natureza tão acidentada. E, todavia, conseguiu-o. Dando créditos à “devastação inteligente” que não se intimida com os prodigiosos embaraços que a estorvam.
A “devastação inteligente” não pode ser esquecida. É a arma que se subleva contra a rigidez de conceitos, a monotonia que toma de assalto a vocação heurística de cada um, condenando-o a uma imerecida pequenez. Uma mnemónica, em constante ação.
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