Caio de pé. Com a fala que contém as minas que anoitecem o chão. Sei do alívio próprio que é a fome do medo. Na enseada em que desaguou o ontem, desisti de saber dos oráculos propedêuticos. Aceito que o leito em que me deito seja o xisto carnal que, irregular, desmancha o chão. Não sou arrás das apostas que centrifugam as inúmeras equações feitas de sortilégios. Espero. Apenas espero. Dentro do tempo consentido.
Caio de pé e resisto às pulsões tentaculares que arrematam as árvores. A viagem não têm apeadeiros. No esgrima dos motivos conservam-se obsoletos versos escritos num idioma datado. O corpo, pelo contrário, está atualizado, confessa-se ao contemporâneo que não deixa de existir, está preparado para litigar com os contratempos.
O circo não passa de uma ilusão – pretendem os patronos dos costumes consolidados, verberando os rebeldes que abjuram os lugares-comuns que movem a turba. Não sou de linhagem que se convença com a primeira palavra que recusa a sindicância. Jogo a insubmissão contra a anestesia forçada a que nos condenam. Nem que seja por dissidência metódica. Nem que seja pelo reconhecimento da loucura que verseja com o pragmático que se omite nas veias lacustres.
E continuo a cair de pé, do miradouro enevoado perscrutando um quase nada, que é um imenso tudo para gáudio do olhar interior que não se consome no teatro das banalidades. De pé, contra os arsenais herméticos que não poupam a honra, contra os diletantes pregadores de verdades imperativas. A favor de um projeto de algo que possa ainda não ter domínio delimitado nem bocas que possam ser suas embaixatrizes. No povoado palavroso, as intenções são jogadas num labirinto de silêncios. O juiz supremo será o acaso.
Sem saber cair a não ser de pé, como os gatos que não esgotam todas as vidas em crédito; como os gatos, insuspeitamente independentes. Por preço nenhum, que a verticalidade não se penhora por sinecuras nem se coloca à mercê de um punhado de genuflexões aos senhores dos destinos por que nos conduzimos. Pois cair de pé é a fiança de um sono desembaraçado, à espera que apenas do presente haja notícias.
O passado deixou de ser matriz. E o futuro é uma constelação de negros e vigilantes sóis à espera de serem desvelados. Um poema contínuo aos lugares onde apenas a incógnita se faz ouvir.
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