Os petizes que andam a aprender olham com desprezo para a História. Desengonçados no seu olhar ainda pueril, para eles a História é uma inutilidade. As coisas do passado pertencem ao passado, não se pode mexer nelas; isso já aprenderam – é pena que, mais à frente, sejam assaltados pelo inconveniente da nostalgia. E os episódios da História, presos num tempo de que não há resgate, não podem mexer com o presente.
Às vezes, os métodos radicais compensam. É preciso agitar consciências. Para as fazer medrar, nem que seja num assomo precoce de uma maturidade que, de outro modo, só chega tarde de mais. Compensa a infantilização que tem feito muito caminho na escala étaria. O seu efeito contrário tem de ser forçado, mesmo que seja por conta do risco das dores psicológicas causadas nos petizes. Não lhes faz mal começarem a crescer ainda a tempo. Têm de aprender a saber onde está alojado o magma que os determina.
Este é o método “breaking the balls of history”. Se estão entretidos com uma hibernação de que não dão conta, dá-se-lhes um banho gelado com o recurso à História. Sem esconder as imagens terríficas, a narração de episódios grotescos, as atrocidades, as imagens de mortos, todos estes blocos de gelo arrancados a um iceberg a serem metodicamente despejados em cima das cabeças ingénuas dos petizes, um dicionário de maldade gratuita. Para os petizes saberem que não seriam quem são se não houvesse alguém, muito tempo antes deles, que se sacrificou ou foi sacrificado. Para que saibam que a indiferença ao passado os esvazia. E que há mortes de outrora que não foram por acaso.
É a História a ser servida num pano puído, um palco por onde desfilam os horrores pedagógicos, a latrina da incivilização. É preciso apertar os tomates da História para a História apertar os tomates dos petizes. Até que uns e outros fiquem quites e os petizes deixem de desaparecer das instâncias da História, fugindo do futuro.
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