Dançam, as bandeiras hasteadas. Esgotam-se nelas os rostos que desembaraçam as fronteiras. As bandeiras são uma amostra do arco-íris. Mostram como é admirável a variedade. A metáfora da diferença, desde que haja vontade para renegar a indiferença do ensimesmar. As mãos estão tingidas com uma cor, mas não recusam mergulhar nas outras cores. Paletas de cores que desobrigam a monocromia entediante, mesquinha. As bandeiras por junto são a constelação de aprendizagens que retiram os meãos da exiguidade. As bandeiras por junto são o esperanto das cores, a escotilha que se desembaraça das águas profundas e traz os olhares ávidos para a superfície para apreciarem diferentes geografias. De todas as cores, um corpo faz o tirocínio cosmopolita. Embebe-se nas culturas diferentes. Entranha-se na arquitetura que é parte da idiossincrasia das cidades demandadas. Aprende a destronar as ameias que impedem os olhares longínquos, o esvoaçar das cores variegadas a constituir o lugar centrípeto de onde todos os lugares são protestados. De todas as cores, sem excluir nenhuma, até que a alma seja o espelho do arco-íris e nem as nuvens plúmbeas arrematem a claridade conquistada. São as cores todas que indeferem os vultos que se queriam perenes. Contagiam-se ao sangue, que passa a ser de um grupo diferente. Contagiam-se ao idioma, que se cinge à profusão de idiomas como amostra das pessoas que são tão diferentes na sua homogénea condição. As cores traduzem os estados de espírito que mudam, as palavras que são consoantes altivas e verbos descomprometidos, sempre à disposição de quem quiser que tenham serventia. E as próprias cores mudam de lugar, como se não quisessem ser reféns da rotina, como palimpsestos que alimentam as cores por dentro das cores, multiplicando as hipóteses. Tornando as vidas manadeiros copiosos. Não há biografias escassas. Desde que sejam de todas as cores.
5.7.23
De todas as cores (short stories #428)
Daniel Catarino, “Teias de Aranha” (ao vivo), in https://www.youtube.com/watch?v=XmCqSrZukIs
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