Deviam inventar a licenciatura em Engenharia Social – ou até um mestrado. Para que o intenso paternalismo que sobre nós se abate não fique órfão de lastro teórico. Só poderiam ser engenheiros sociais os que tivessem estudado Engenharia Social.
Isto a propósito de um curso (de presença e avaliação obrigatórios) que ensinava a lavar as mãos. Não é só lavar as mãos, é lavar as mãos como deve ser. Como se fosse adquirido que não sabemos lavar as mãos, ou que a nossa dívida à higiene passa a conta do razoável. Mal não fica o cidadão se se submeter à aprendizagem. Se descobrir que não cumpria os preceitos aceitáveis da lavagem de mãos, os padrões de higiene por que passa a pautar-se são mais elevados, só fica a ganhar ao evitar a panóplia de bactérias e fungos que podem fermentar doenças mil. Se descobrir que já cumpria os cânones da higiene pessoal, fica devidamente certificado. Como diz o povo condescendente, mal não faz.
A menos que a porta fique entreaberta para futuras levas de formações que nos ensinem o que faltou à educação que os nossos pais nos deram. Pode começar por uma ação de como lavar os pés (para os pés não se sentirem discriminados em relação às mãos). E depois, uma outra, mais demorada, a ensinar como tomar um banho decente, onde serão combinadas duas facetas: a higiene pessoal e a proteção do ambiente, para que o cidadão saiba usar apenas a água estritamente necessária para sair do duche devidamente higienizado. E a seguir, uma ação de formação que ensina a lavar os dentes (para desgosto dos dentistas, que perderão clientela). E logo depois, uma formação sobre higiene íntima antes e depois do ato sexual. E por aí fora. Até sermos convocados para uma ação não facultativa sobre sexo, para, enfim, os diligentes paternalistas que nos tutelam saciarem (quem sabe?) os inconfessáveis desejos e se deitarem sabendo que indiretamente se deitaram nas nossas camas e entre os nossos corpos que se entrelaçam com a bênção de tais engenheiros sociais. A porta fica aberta para a futura higienização do cidadão, até que ele fique formatado como mandam os cânones da engenharia social.
E, todavia, fui testemunha de um episódio que, dir-me-ão, me fará meter a viola no saco (para usar a expressão tão grata aos embaixadores dos lugares-comuns). Estava numa casa de banho pública e do lugar reservado à sanita saiu um rapazola que nem parou no apeadeiro da lavagem de mãos, saindo, ato contínuo, com as mãos no mesmo estado em que estavam antes de ter satisfeito a função que o levou à sanita. Sem lavar as mãos. Como era hora do almoço, perguntei-me se o rapazola saiu da casa de banho diretamente para o foyer da restauração.
Talvez fosse boa ideia fundar um mestrado em Engenharia Social e obrigar, desde os bancos da escola, os petizes a saberem como é a higiene pessoal e outras coisas que deviam perder o direito a pertencer à intimidade. Os paternalistas zelam muito pelo nosso bem-estar. Este zelo devia ser homenageado com um saber próprio nas universidades. Uma polícia dos costumes seria o complemento necessário. Como já estamos numa era de apertada videovigilância e quase tudo se pode saber sobre nós, era instalar câmaras nas casas de banho (já que a intimidade deixaria de ser intimidade) para multar os boçais que saem da casa de banho sem lavarem as mãos depois de defecarem.
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