Este é o atalho, a locomotiva dos audazes. Que admirável mundo – condescendem, extasiados, os que tomaram um analgésico do tamanho dos mares. Apregoam: não há lugares reféns que mereçam desterro e as lágrimas são o desembaraço da alma.
O musgo que se oferece antes da terra desguarnecida convida à extravagância dos diletantes. Muitos não provaram laranjas amargas. Alguns sabem como a acidez das laranjas é corrosiva, sabem como fabricam uma convulsão que vira tudo do avesso. Os colóquios onde as partes se entretêm são como jogos onde as palavras são atiradas contra as paredes do labirinto, até serem adulteradas. Dizem: as palavras precisam de reinventar os seus sentidos. E as pessoas aplaudem os jograis que esculpem o idioma sem critério, apenas porque esse é o feitiço que aprendem quando os gestos são comandados pelo degelo.
À espreita, os que protestam contra as atrocidades consecutivas. Do seu viés, apenas angústia, tragédia enciclopédica, os pés no limiar do apocalipse. Esfregam as desproezas do mundo contra os dinásticos da ordem que obedecem à ordem. Estão viciados em angústia, tragédia enciclopédica, no espectro do apocalipse. Desdenham os rostos translúcidos que transpiram a luz clara que usam nos dias quiméricos. Dos rostos que não se atêm ao modo crepuscular – e se o fizessem, cuidariam de provar que a luz baça que pressente a noite é outra quimera, as silhuetas desmatadas a subirem a palco para deixarem a sua impressão digital.
Para contrariar os mecenas da melancolia, recitam poemas com as vozes cheias de um luar gravitacional e tudo à volta deixa de ser ermo. Sobem às selas de onde ordenam cavalos imaginados. Meneiam os gestos como se estivessem na estepe a cuidar dos cavalos. Inventam o idioma. Inventam, se preciso for, as ordens mentais para aliviar o rosto do ar sorumbático que os melancólicos exibem. Se pudessem, decretavam cada dia um archote que é a dádiva de luz que repõe a frugalidade que contraria ambições sem escala.
Contestam-nos por recorrerem a analgésicos do tamanho dos mares e fingirem as dores irreparáveis. Não se importam. Se o fingimento for o ornato preciso para desautorizar a angústia e o clamor intencional do apocalipse, deitemo-nos ao fingimento. Esse é um opiáceo que não abriga a dependência.
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