Parte de mim soube ser a metade oculta que se exila da sindicância. O anonimato foi fonte, fugindo das luzes extravagantes que se insinuam, sedutoras.
Diriam: paguei com o preço da desoportunidade. Tivesse continuado empenhado num investimento inaugural e o destino teria sido um lugar longínquo, possivelmente elevado a outro Olimpo. A dedução não passa disso: um pressentimento que não pode saber das marés que teriam protestado o seu direito se outras tivessem sido as avenidas percorridas. Não quero ser mecenas de arrependimentos.
Os ossos só fogem do acosso da matéria desnatural, desviando-se das balas extravagantes. A visibilidade é um ónus que depois é difícil de anular. Os rostos indiferentes, que permanecem incógnitos no meio de uma rua sequer deserta, angariam a seu favor os palácios da felicidade. Uma alma repleta não procura reconhecimento exterior. Valida-se a si mesma, despretensiosamente. Não demanda as luzes feéricas que conferem a maquilhagem, o aval de um disfarce. Prefiro ser eu a ser um meu disfarce.
(Ainda que seja uma maratona encontrar as fronteiras que contêm o eu.)
Os augúrios não têm lugar nesta peregrinação às arcadas escondidas. Cobram-se faturas de tempos idos com a benevolência que o futuro carrega (antes que o futuro se torne presente e desminta a validade). Não se estendem comendas numa passadeira estulta. Não se intuem panegíricos que apenas inebriam e dão corda à inflação do ego. É por dentro deste recolhimento que me afasto dos holofotes que incendeiam a lucidez e emprestam um viés ao olhar. Sinto-me bem-vindo ao anonimato.
Cubro com um véu a opacidade do rosto. De resto, oponho-me à sindicância das almas por vetustos portadores de verdades. Alinho pelas ruas desertas, a mitomania consagrada, uns pós de rebeldia misturados com adiamentos metódicos, tudo benzido por desdeuses sem freio que ensinam, contra o gratuito embaciar do conhecimento, como ser um pária sem dores de consciência.
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