Não é a podridão que embaraça. Não é a madurez exorbitante que transcende os deslimites. Contra a ditadura do tempo, os bagos que se diriam perdidos na colheita transfiguram as possibilidades. Os braços maduros contemplam os estatutos vindicados pelo apóstolos da decadência: às vezes, os vetustos atravessam-se no erro e desmoralizam a fruição dos bagos decadentes.
A noite mordaz deita-se sobre os rostos desprevenidos. Julga-os pela apreciada podridão arrevesada, está segura da derrota dos oráculos do luar. Se os refrões não fossem repetidos eram circunstâncias avalizadas pelo despudor, cumpriam-se em eufemismos ou promessas de encantamento; ninguém se importunava, tanta a indiferença geral. Os bagos que entram no bolor da podridão estão cercados de parras desmaiadas, aburguesados em estatuto. A eles, a triunfal marcha que se assemelha a hinos míticos, que o néctar fermentado é desproporcional à sua envergonhada feição.
O círculo fecha-se nas imediações desarrumadas que não aceitam tutor. Alguns embaixadores dos cânones vulgarizados torcem o nariz. A podridão não é boa conselheira, advertem. À sua volta, o séquito acena com flores à espera de apodrecerem, pode ser que os embaixadores saiam do quadrado e aceitem o suco dúctil que bebe inspiração em bagos apodrecidos. Teimosos, os embaixadores insistem na pose obnóxia. Lembram generais empoeirados que desfilam entre os destroços como se fosse exemplar a sua coutada. Anestesiados pela inebriação suicida, são abatidos como patos demenciais à espera da bala terminal – não precisaram de jogar à roleta russa. Dizem que partiram deste mundo com o encanto de quem estava cercado por ilusões. Deles não se diga que a paz passou a habitar as suas almas: desaprovaram a sua podridão, cortando caminho até à morte.
As telas maiúsculas gozam de privilégios, impermeabilizam a pele contra as lágrimas estatuárias que desmentem o estio das ideias. A jogo sobe a candidatura das uvas a um passo da podridão. Os estetas das vinhas aprenderam a conferir a beleza da colheita quando apreciada com a distância de um miradouro. Agora reaprenderam os cânones. Os bagos que estão a um passo da podridão são pérolas que se candidatam a património da humanidade.
Ainda bem que ficaram esquecidos no limiar da decadência. Adiam o esqueleto da vinha, autorizando as flores acobreadas a conviver com os derradeiros bagos. Tomara fossem outros elixires feitos desta destemperança.
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