Não seja pela absolvição. Não é por medo da admoestação, também. É a menoridade das memórias – essa perpétua ditadura que se abate – que envenena o sangue que se emulsiona na reparação do passado. Em cada catedral, um séquito de cobradores está à espera do pagamento da dívida. Assustados, inscrevemos a redenção como intendência no caderno de encargos.
Podia haver rigor na identificação do mercado das almas. Dissessem, com a precisão convincente, que roteiro espera quem for assoalhado num lugar contrafeito como promessa eterna de desassossego. Como condenação eterna. Não há conhecimento de tal mercado. As almas não se mercam através de intermediários sem rosto que se fazem passar por vultos medonhos, os que detêm a sede de justiça nas mãos. Vultos em quem foi depositado o poder de arrematar as almas possivelmente desapiedadas, as que estão desenganadas pelos desenganos que cometeram. E nós, cometas algures, passivamente numa paragem enquanto não é hora de uma barca vetusta parar para amordaçar a vontade dos que rejeitam o acerto de responsabilidades.
Se esse ónus for vertido no caderno de encargos, que sejamos os únicos a apurar o acerto de contas. Não precisamos de redenção se o propósito é a sua ostentação. Não contam as indulgências, ou os irreparáveis corretivos, que bolçam em forma de ameaça sobre o sono que se transforma em pesadelo mortiço. A redenção só é válida se for uma demanda interior e lobrigar num território exíguo – o mapa que coincide com o eu que se despe para ficar à mercê da redenção. Sem mais ninguém dela saber.
A redenção é dispensável, é uma farsa que vigariza o sangue cansado que habita as veias próprias. A empreitada que define sem logros a autenticidade da redenção é escarpada. Melhor será escapar ao engenho que se abate sobre os que são assaltados pela injunção da redenção. Os vulcões têm crateras por cicatrizar e as suas veias continuam abraseadas pelos estorvos que se apanham pela vida fora.
Não é a redenção que vem circuncisar as crateras que são as fraturas expostas da alma. É o medo de não estar interiormente à altura.
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