The Sound, “Burning Part of Me” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=MuZlbG0CaiM
Tudo se configura na beligerância latente, no irreprimível gosto pela confrontação: somos opostos uns dos outros para não seremos uma entediante aliteração da espécie?
Do lugar onde alguém se situa, o planalto escava um lugar amplo na paisagem antes de chegar ao ermo onde se desfaz num precipício. Despenha-se na planície inferior, tomando conta do lugar antagónico. Desse lugar, o olhar está adestrado, o sangue ganhou hábitos geográficos, mas a identidade está abaixo das idiossincrasias. A identidade convive com os diferentes ângulos que servem para o olhar decantar o que se move à sua volta. Os olhares diferentes podem entrar em choque frontal se não estiverem educados para transigir com a diferença; se o seu código genético for a intolerância e arrotearem o caminho da incompatibilidade gratuita.
Parece que as pessoas vivem aprisionadas num labirinto onde só existem sentidos obrigatórios, caminhos de via única onde não podem circular em sentidos opostos. Como se fossem uma manada imprecisa, apascentada por gurus entronizados que ensinam os mandamentos e não aceitam divergências apalavradas; como se os sentidos proibidos proliferassem até serem bandeira reconhecida. Medram numa beligerância apenas latente. Uma beligerância gratuita: a oposição só pelo prazer da oposição, ou o espírito de contradição como um mosto frívolo. Confundindo oposição gratuita com o imperativo de cada um não ser mera parcela, indiferente, de um somatório que é convocado a ser um todo coeso. Esgrimindo na vacuidade de oposições infundamentadas. Confundindo os planos: o antagonismo célere e sem maturação não é sinónimo da metódica necessidade de gravitar num hemisfério alternativo que constitua dissidência fundamentada.
O sopesar do pensamento impede o sequestro pelo febril determinismo. As vitaminas do despensamento único (em todas as suas modalidades: a convencionada e as que contra ela protestam) povoam o contra-ataque diligente contra açaimes. De cada vez que um imperativo categórico escapar da gruta onde devia cumprir demorada pena de prisão, cabe aos curadores do pluralismo cercá-lo para o devolver ao cárcere, ou para o devorar. Sem beligerância militante, com a dose necessária que se oponha aos compêndios que adulteram a vontade.
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