Propaganda, “Duel” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=2B-iLNDwiqY
Partir do lugar ausente não é prejuízo. Os verbetes do futuro amotinam-se no arrastar do tempo; protestam: o futuro parece uma empreitada sempre adiada, como se não chegasse a haver futuro. Os olhos não mentem. Arrumam os destroços amontoados nas lombadas puídas. Alicerçam as palavras, que não são sábias. A enseada esconde as ilhas. As ilhas que somos, descomedidos no apalavrado medo de falharmos. É uma angústia que não precisa de ser redimida. A preparação metódica para o logro devia fazer parte dos códigos de conduta. A visão noturna não é a congeminação de um eclipse. Não é a ocultação dos luares que ateiam os fogos redentores, os fogos que avivam a alma. A coreografia das luzes e das sombras é uma pauta letrada. Para que a alma não seja refém de hibernações que refugiam as almas na letargia. Não há bravura nos adágios populares. Não há sensibilidade na pele arguta que se encoleriza contra as tatuagens impostas. Não há parcimónia nos gestos loquazes que substituem a gramática das palavras. Azougado o pensamento, atira-se desmedidamente ao caudal iracundo do rio. Precisa de um caudal agitado, para ser agitado de um lado para o outro, continuamente com o sobressalto do naufrágio a ferir o sangue com uma dor abraseada. Se calhar, devíamos ser náufragos só por uma vez. Ou somo-lo sem saber, tantas vezes pelo tempo fora, e nem precisámos de ser embarcadiços. Os olhos tingidos pela insónia açambarcam as sombras que ameaçam colonizar o sangue combustível. A matéria sensível ocupa as paredes limítrofes, deixa na boca o sabor de uma nortada irreparável. A boca é o escanção que freia os fantasmas quando o corpo é atirado contra a falésia. Sem dar conta, vestem-lhe asas. E impera sobre o horizonte, fazendo-o peito que alberga os tempos sem memória.
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