Air ft. Beth Hirsch, “All I Need”, in https://www.youtube.com/watch?v=kxWFyvTg6mc
O abril que sabe a julho. As portas que se atravessam no caminho das janelas, trazendo para dentro o luar do outono mesmo que seja a vez do estio. As marcas que nunca são registadas, abolidas as denominações de origem. As identidades abominadas para não sermos metidos em cercas e depois nos odiarmos na exata medida da ocupação de espaços delimitados.
O sangue que não é geográfico. Os idiomas que são diferentes mas se traduzem uns nos outros. Os usos que têm diferentes paradeiros e todavia se acostumam mutuamente. As ameias que deixaram de ser de castelos para serem apenas reservas mentais. As fronteiras porosas que prescreveram. O sentimento de humanidade que atravessa fronteiras, ditando atávicos os hinos e bandeiras. O princípio geral da concórdia se pactuarmos a mestiçagem.
Os mares que se entrecruzam. Os continentes que se fundem uns nos outros pelo braço estendido pelos oceanos. As pessoas que viajam, conhecem-se, inventariam diferentes geografias, idiomas, comidas, usos, pessoas. E como amadurecem num sentimento de comunhão que torpedeia as barreiras desassimiladas.
Os olhos que são de cores idênticas e os olhares que acrescentam diversidade aos objetos observados. As bocas que falam diferentes idiomas, mas que se entendem por serem titulares de um tesouro comum. O respeito pelos que hasteiam diferenças em relação a nós. Por titularidade do respeito que exigimos dos outros e sem ser apenas por esse cunho oportunista, por mero código de conduta que arroteia a harmonia entre gentes de diferentes latitudes e longitudes.
Não somos cultores das diferenças como sinal de dissidência. Estendemos os braços aos outros, perguntamos, aprendemos com eles, damos resposta à curiosidade sobre nós. E nunca a afirmação das idiossincrasias é arrogante. Atiramo-nos às diferentes geografias como forasteiros descomprometidos, uma sede tremenda de conhecimento: não há lugar a hierarquias nem preconceitos sobre o cotejo entre o lugar da partida e os lugares de chegada. Mestiçamos, porque somos património comum uns dos outros. Se nos exigirem definição, diremos que a única coisa que odiamos é a beligerância autodestrutiva do Homem, a sua feição execrável de não ter estatura para ser maior.
Mestiçados, mercadejamos o lugar centrípeto da humanidade.
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