David Byrne, “This Must Be a Place” (live Santiago do Chile), in https://www.youtube.com/watch?v=CSDvcHE48zk
Condiz o prazo com a maré, enquanto o navio desce o rio e espera que a eclusa liberte a água para o navio dar o salto de peixe. A eclusa esvazia o suficiente para o navio afocinhar na maré inferior. Alguns passageiros contemplam com admiração. No convés, três turistas apreciam os passageiros que apreciam o nivelamento do navio. “Devem ser engenheiros”, pressagiam, desinteressados, com a ajuda do álcool debitado por conta dos gin tónicos encomendados. Poucos saem do convés, onde têm o beneplácito da sombra. O vale do rio aloja um Verão infernal. As pessoas fogem das horas quentes, como se o sol estivesse destinado a agredir quem ousa desfiá-lo. O sol é amigo das pessoas: se elas arriscarem afrontar o sol, as marcas na pele são o aviso do sol para memória futura. É um pouco como o caudal do rio. Os “engenheiros” comentam como é possível o navio encaixar num caudal por sua vez encaixado em tão alcantilado vale. As boias de sinalização ajudam o navio (como o sol avisa os destemidos para não o serem). O navio move-se com o vagar típico das embarcações com este calado. Circunda as boias para não acertar nos rochedos submersos, a continuação das escarpas pedregosas que se despenham vertiginosamente no rio. Comenta-se a perícia do comandante do navio, à medida da perícia da natureza que se esculpiu com a roupagem do sortilégio. Às vezes, o canal por onde desliza o navio parece ter sido feita à sua medida. Há boias que roçam no casco. Com atenção, há passageiros que conseguem avistar as rochas delimitadas pelas boias. A água do rio é nítida, com a ajuda de outros engenheiros que aprenderam a fazer o tratamento das águas sujas que desaguavam no rio. Com a bênção dos “engenheiros” embarcados, os cálices de champanhe zunem em homenagem à engenharia do ambiente.
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