29.8.24

Querido alguém – apóstrofe da silly season (short stories #464)

The Breeders, “Divine Hammer” (Live in Big Sur), in https://www.youtube.com/watch?v=fhIsV7yENbQ

          Querido alguém: dir-te-ia, um dia, que não me sento na fobia. E tu, do avesso vestido, farias gestos avulsos para esconjurar o. Soubesse o teu nome e não te tratava por alguém; valha-te a minha generosidade, que dela estou particularmente imbuído nesta época de, antes que me desse para não usar a fórmula carinhosa que encima a missiva. Os animais bebem. Tu também. Eles não bebem álcool. As tuas são bebedeiras sãs: andas sempre a dizer, arqueado pela ressaca, que se não fosse a bebida que bebes em avantajadas doses não serias. Depois soltam-se os garfos sorumbáticos, aproveitando-se da distração das. São as aias que bisbilhotam na ossatura do tempo: se os amos soubessem, e se fossem dados aos cálculos financeiros, atiravam às fuças das aias o tanto que custam à hora, mas não supõem a língua afiada das. Haja quem meta sindicatos pelo meio da poda. Não se vituperam as oprimidas do trabalho doméstico, para uma ascensional estrela do teatro não escrever uma sequela de uma peça que se confundia com um comício do partido da sua preferência. Já não há mordomos, ao menos – é pena, para se poder especular com as costuras da igualdade da jovem encenadora. Talvez seja das miragens que se insinuam entre as sombras. Os marcos vetustos conservam-se com firmeza, e não é em formol. Não protestem os conservadores: seu é o domínio das convenções, por enquanto. Daqui por uns tempos, quando o horizonte tiver encruzado o equinócio das bestas, os edis serão apenas palavrosas figuras que oferecem uma mão cheia de nada. Acusem a silly season. Isso, façam assim de conta, só para sentirem se as fundações do fingimento não devoram os vossos nomes por dentro. Enquanto estiverem à revelia, fiquemo-nos pelo querido alguém. Pois um alguém é o arnês de um nome qualquer. 

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