In http://www.nowtheendbegins.com/blog/wp-content/uploads/syria-unleashes-massive-gas-chemical-attack-on-damascus.jpg
Já temos idade (os que têm esta idade;
mas talvez os de todas as idades) para não andarmos açambarcados por ilusões.
Os palcos de guerra são uma atrocidade sem adjetivos. A humanidade, uma espécie
suicidária que não aprende com as guerras de outrora e insiste em matar gente
inocente, apanhada no tempo e no lugar errados e no meio de um imenso nada de
ideias.
E, mesmo assim, com toda a frieza que
a idade admite, os olhos são ultrajados com as fotografias de outra selvajaria
em palco de guerra. Enquanto os estrategas militares se entretêm a ensinar a
“arte da guerra” (devia ser proibida esta conjugação de étimos que são a
negação um do outro), e os cultores da geopolítica medem efeitos e estimam
cenários alternativos, homens, mulheres e crianças sucumbem à força soez das
armas. Quando a chacina rima com mortes coletivas, depois de um ataque ignóbil
com armas químicas, e as imagens entram pelos olhos ferindo-os na sua já fina
crença na espécie humana, a inocência de idades pueris apetece vir à tona. Os
corpos de mulheres, homens e crianças ensacados em lençóis brancos estão
alinhados num corredor de morte, todos vítimas inocentes no apogeu das
hostilidades que são um hino à demência da espécie. Esses cadáveres metem-se
pelos olhos e são lesões que não se confiam ao tecido ocular, penetrando ao
mais fundo do pensamento.
É quando apetece resgatar a inocência
dos tempos infantis. Quando o mundo estava mergulhado numa campânula e o mundo
lá fora, este mundo hediondo que só merece ser espezinhado, não existia. Quando
a ingenuidade era o leme do tempo e a crença na bondade dos homens não era
interrogada. Agora, esmagado por estas fotografias que denunciam a bastarda
condição humana, é difícil ir aos tempos que pertencem à memória e fazer de
conta que somos puerilmente inocentes. A doença da informação (compulsiva ou
não) vacinou-nos contra a inocência. Perdeu-se nos arredores da memória, e a
ela pertence como retrato do que foram esses tempos.
O agora é um exame que desafia os
limites da bestialidade humana. Não me interessa quem usou as armas químicas, ou
os jogos florais das nações desunidas, ou (ainda menos) os recortes da
estratégia militar que são a pior ofensa ao sossego dos civis que não são
perguntados se querem ser vítimas colaterais de uma guerra. Talvez a esta gente
toda houvesse merecimento de uma morte dolorosa e lenta, como paga para o crime
lesivo da bondade humana de que iriam acusados.
A inocência resgatada só me deixa
pensar na morte atroz de toda aquela gente, que nem tempo teve para saber do
que estava a morrer, a não ser de serem vítimas de uma (mais outra) guerra
absurda.
1 comentário:
"Cada um está só no coração da terra
trespassado por um raio de sol;
e subitamente é noite".
Salvatore Quasimodo
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