Jambinai, “Warm”, in https://www.youtube.com/watch?v=tsEuCyaamZ4
Eis empreitada impossível: quem consegue vencer
o relógio? Deportos mandam os praticantes contra o relógio, numa variedade que
se apoda “contrarrelógio”. À partida, já se sabe o resultado quando alguém se
atira contra o relógio: perde. Na graduação dos competidores, falta saber quem
perdeu por menos. Quem apanhou a menor cabazada do relógio, ou aquele que
contou menos tempo na derrota garantida contra o relógio. Não é proeza de que
ninguém se possa gabar.
Quem tem a veleidade de se emparelhar numa
competição contra o relógio e, em sabendo que a principia como derrotado sem
remédio, acha incentivo para tirar partido da demanda? Só se for para derrotar
os competidores. Mas, nesse caso, está errado chamar “contrarrelógio” à contenda.
A função mede-se no cotejo do atleta e dos concorrentes. O relógio é apenas o
intermediário, não o ator principal (como se supõe ao ler “contrarrelógio”). Eis
um caso de erro de eloquência dos lugares-comuns assim entronizados na língua
costumeira.
Na exterioridade do desporto, há contrarrelógios
todos os dias. A toda a hora. Ninguém pode dizer que consegue ficar imune à
tirania dos relógios que fazem correr as medidas do tempo contra nós. Por mais
que nos apressemos. Por mais que estejamos com urgência em abraçar as
empreitadas para as quais se define um estalão, a espada arqueia-se à medida do
compasso do relógio que é o contratempo indomável. Podemos fazer de conta: as
hibernações, os parêntesis que unilateralmente metemos no tempo, como se fosse
possível suspendê-lo, no boicotar do relógio que dita os comandos do tempo que
contra nós se insurgem; podemos ensaiar tudo isso e o demais que venha aos
braços da criatividade, os ponteiros que acompanham a marcha irresolúvel do
tempo não se simulam nos ardis congeminados para fazer de conta que o tempo se
interrompe. Também corremos contrarrelógio e estamos condenados a perder.
Há um segredo para caldear o intempestivo
malogro? Não temos de dar conta da passagem do tempo. Nem temos de o apressar. Ele
segue a marcha determinada. Se o apressarmos, ainda nos faz a vontade. Não adianta
a intentona contra o tempo. Podemos amaciá-lo entre as mãos, desligando da
corrente as frenéticas vozes interiores que são um clamor ao apressamento do
tempo. Na altura certa, já não tem serventia. Nem o tempo, devidamente
exaurido. Nem o arrependimento de o termos esgotado a destempo.
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