Tobias Jesso Jr., “Without
You” (live at Later with Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=ScQW5mizYGo
O património abainhado no ouro mais precioso
que temos: os lugares demandados, as palavras de que apenas nós fomos tutores,
a casa fortaleza, a janela por onde lançamos âncora ao resto do mundo – o resto
do mundo que cabe todo na moldura da janela de que somos feitores.
Há, neste império, todo o mar que temos nas mãos,
o mar por onde sondamos as purezas e as impurezas, a glorificação do que tal
merece e os ruídos da melancolia, toda uma maresia imorredoira que é o perfume
que exalamos. As flores que tingimos são o vibrante testemunho da inteireza. Não
sabemos se não ser nós, o império onde o mundo tem lugar. Não há equívoco: é
assim mesmo, do todo (o império que somos nós) para a parte (o mundo, de que
somos casa). Desalinhando dos néones apetecíveis, preferindo as sombras de onde
erguemos as ameias que queremos singulares, logo seguidas por beijos irrecusáveis,
as horas de silêncio mais eloquentes do que palavras mil, um singelo olhar que
entra nas profundezas da alma, a música lida, a poesia cantada, as
palavras-sedimento que cimentam as costuras de um uníssono. Pois não há
sombras, daquelas madraças, improfícuas, as sombras lugares-tenentes da perfídia,
que sejam apoquentação bastante. (Deixamos essas sombras aos seus fautores, pobres
algozes de si mesmos, medíocres representações da espécie.)
No lugar mais alto do tempo, onde descobrimos
os promontórios inacessíveis (menos para nós) de onde tomamos o mundo nas mãos,
encontramos a matéria-prima do império de que registámos marca. Na indelével
dança, imaginada ao menos (por incapacidade minha), onde abraçamos os corpos na
confluência dos rios que fertilizam os lugares que pisamos. Não deixamos os
corpos órfãos, nem desaproveitamos as palavras que pedem licença ao silêncio
capaz. No domínio que é nosso império, somos predicados perfeitos, representações
autónomas das vontades alheias, somos uma vontade soberana, desenhando no céu à
nossa volta as palavras caiadas no fogo nunca fátuo.
Somos o palco onde têm perfeição as veleidades
até mais distantes. Desde o império, no lugar incontestável de imperadores,
sobranceiros ao mundo que se depõe aos nossos pés.
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