Beck, “Dear Life”, in https://www.youtube.com/watch?v=ERoS6y5zE0Y
O peito do tamanho de um esporão elefantíaco. Muralha
pétrea. À prova de bala. Caixa forte com combinação inexpugnável como código de
acesso. É para isto que serve um tiro ao alvo. Na gravitas das coisas que
precisam de expiação, contra a mácula dos outros que são fautores de perfídias
e passam incólumes, imberbemente imundos nos despojos da sua irresponsabilidade.
O peito inquebrantável, à espera das balas –
das balas que deviam ser devolvidas ao destinatário certo, os merecidos algozes
que fermentam as aleivosias. Deste lado, o peito preparado para o tiro ao alvo.
É seu ofício. As balas que venham, de todos os calibres, disparadas com a força
que vierem, com a persignação da franqueza ou com a indiscreta surpresa. Tanto faz.
É sempre um tiro ao alvo. E que é preciso para a superação das crueldades que
fervilham nas mãos podres dos que as cometem e que são sofridas por outrem,
injustamente. Há sempre um destinatário das crueldades. Nunca terminam órfãs. A
jusante, convém haver um tiro ao alvo que seja a barragem onde se faz a
descarga das putrefatas maldades defecadas por pobres mentes pobres.
É um efeito dominó, com a exprobração a cair em
cascata até repousar, seu leito final, no tiro ao alvo. Não tem cabimento as
dores de parto de gente malparida desaguarem em quem é alheio a tais
impiedades. Quase como se houvesse uma passagem de testemunho, à maneira das
estafetas no atletismo. Pois a vítima primeira das crueldades é a que sofre a
maior iniquidade – à distância, mais ainda do que o alvo dos tiros que encaixar
em seu peito a balística pejorativa. O tiro ao alvo existe para amaciar as
dores lancinantes causadas pelo injusto opróbrio que se abate sobre a vítima
primeira das perversas malfeitorias. Dividindo as dores de parto dos malparidos
que covardemente as endossam para limparem a aura da sua irresponsabilidade.
Ser o alvo dos tiros não é empreitada para o
comum dos mortais. Convém armação a preceito para encarnar tiro ao alvo. Só um
cimento inamovível explica a justaposição de funções. É preciso abrir o peito às
balas e assumir, de frente, ser o alvo do tiro. Assim manda a voz uníssona e o
esteio-aço.
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