Portishead, “Glory Box”, in
https://www.youtube.com/watch?v=4qQyUi4zfDs
A questão das armas terçadas: não se prendam
rostos argutos ao despudor das armas ausentes. Dizem que é inverosímil. Dizem que
todos têm de ter armas à mão para o caso de ser preciso terçá-las. Dizem,
ainda, que as terçadas armas podem ser imperativas para defesa contra
agressividades espúrias, ou apenas como postura atacante na projetada conquista
de um território qualquer.
Eu mantenho: não são precisas armas. Nem quando
um empate faz pender o equilíbrio para o infortúnio da incerteza. Não se medem
as virtudes de alguém pela centelha que sobra depois de destroçar rivais
avulsos. O repouso dos ossos cansados, ou mesmo – e apenas – do corpo que
precisa de estivar as suas internas sobreposições, desaprova rivalidades
inconsequentes. Manda-se passar ao lado dos sobressaltos que podem destravar o
freio das contendas. Poupa-se o sono a insónias madraças. O desempate convoca a
alienação das armas. As mãos aparecem nuas porque não há contendas para travar.
Em vez de armas, o desempate encomenda às mãos empreitadas mais nobres – a arte
de uma arte qualquer, as mãos suas artesãs incondicionais. Sem medo de
derrotas, que o seu avesso – o triunfo dos oponentes – só o é se de um lado
houver aceitação do que esteja em liça, o que não é o caso.
Muitos desdizem que o rosto não se oferece
duas, três, as vezes que forem precisas, por imposição do palco alisado, sem chão
pedregoso, onde o corpo se deita sem ganhar cicatrizes. O fumo intenso que se
soergue da caldeira de um vulcão não se trata de congeminações funestas, conspirações
escritas em papeis com linhas entortadas, uma convulsão torturante que se
assemelhe à véspera da morte. Na miríade de cores filtradas pelas cinzas
atiradas ao céu cabem uma constelação de palavras delicodoces e grandiosas, uma
tela extensa contendo as imagens emolduradas que esperam pelo porvir
desembaraçado.
O desempate corre a favor. Os olhos
desembaciados sabem-no. Sem o estorvo das lágrimas, ou o pendor para o estertor
inútil, os olhos escrevem o desempate a favor na linguagem indelével das obras
com selo dourado.
Sem comentários:
Enviar um comentário