Billy idol, “Eyes Without a
Face”, in https://www.youtube.com/watch?v=9OFpfTd0EIs
A multidão, tanta que os rostos são
indiferentes uns dos outros. Caminham as pessoas em sentidos diferentes. As almas
com pesos diferentes. Pensares diferentes. E, todavia, o sangue (de diferentes
tipos) corre por veias com uma certa semelhança. Há toda uma orgânica que
percorre, em semelhança, a estatutária viva das pessoas.
Do miradouro, uma imagem distante da multidão. Multicromática.
Gente feita de diferentes idades, diferentes experiências, diferentes anseios,
diferentes juramentos perante o tempo sobrante. Gente diferente. Do alto do
miradouro com a multidão sob os pés, como se não fosse um apenas entre a multidão
que habita o condomínio do mundo. Não cobiça ser o olhar sobranceiro que resume
o olhar da multidão. Nem pretende que o olhar da multidão seja o farol por onde
se projeta o seu olhar. Não sabe ser porta-voz. Nem podia ter o ónus de chamar
ao seu olhar uma síntese dos olhares outros. A diversidade impedi-lo-ia. Mais importante,
nunca se confiou a função de ser émulo do sentir alheio. Já chegam as consumições
entregues na sua morada. Não concebe ser o olhar que decanta o sentir dos
outros, pois nem sabe como medra tal sentir, nem aceita que um olhar seja se não
a interpretação do sentir que corresponde ao corpo que transporta aquele olhar.
Por maioria de razão, não transige com procurações que sejam a transfiguração
de um olhar através do olhar da multidão.
A multidão não é um corpo único. É o somatório
dos corpos únicos que lhe emprestam existência fictícia. Sempre se incomodou
com os manipuladores que concentram a prestidigitação da fala dos outros sem lhes
terem pedido licença, sem sequer notarem a usurpação do pesar individual. Pelos
olhos da multidão, é o nada que se vê. Pois dos olhos da multidão reverte a
favor do mundo um cosmos imenso, a pluralidade que se embebe nos diferentes ângulos,
nos diferentes pontos de partida, nos labirintos diferentes por onde se tece o
pensamento.
Tudo o que venha em contravenção do estipulado,
imaginando fantásticos mecanismos de absorção do olhar da multidão, é um
totalitarismo espúrio (como são todos os totalitarismos).
Sem comentários:
Enviar um comentário