Bauhaus, “Bela Lugosi’s
Dead”, in https://www.youtube.com/watch?v=zq7xyjU-jsU
Paródia, não como método que aligeira a
contumácia que toma conta da vida, com os olhos simulando uma alegria que não indispõe
e açambarca as tenebrosas raízes que ameaçam contaminação sombria. Não como humor
catalítico, varrendo para os cantos escondidos as pútridas afeções que afeiam a
existência, deixando em escombros a sede dos pesadelos tonitruantes.
Paródia, porque a vida é um riso constante
– ou tem de ser um riso constante. Raras vezes, pelas causas que dão azo ao
riso. Antes, porque ele há tantos sobressaltos, cercando de todos os lados, que
mais vale deles fazer matéria risível. Não significa que sejamos fautores de
alavancas quiméricas que transfiguram os pavores em matéria-prima de comicidade.
Às vezes, o despautério roça os limites do impensável e, nessa medida, antes atirar
do rosto um sorriso sarcástico do que um esgar pesaroso. Os zelotes do despautério
só merecem o desdém. E o desdém afivela-se no sorriso sarcástico. São personagens
risíveis. Merecem, em tratamento contundente, que lhes seja dedicado o desprezo
de quem os acantona no exílio dos miseráveis, a quem a comiseração não é devida
– para quem o sarcasmo é arma perfeita, pois de tão apedeutas nem lhes chega a
ocorrer que são escarnecidos, impiedosamente escarnecidos.
Por latitudes destas, a vida é uma paródia
pegada. Tem de ser paródia. Sob pena de se arrastar num diálogo desigual – um diálogo
de surdos, pois não há como pôr em sintonia quem alinha em diferentes equinócios.
A vida é uma paródia porque abundam os beócios. Na impossibilidade de os réditos
públicos engordarem mercê de um tributo milagrosamente arrecadado na exata
medida da necedade excessiva, sobra a hipótese do riso desbragado. Um riso mordaz,
não contemplativo, sem dúvida intolerante. Um riso que transborda sobre o rosto
apatetado dos beócios. Os dos pergaminhos meãos não merecem que o rosto se
afunde na melancolia. Não merecem um quinhão de tamanho crédito.
O segredo está em mandar o riso farto
ser a resposta aos beócios incorrigíveis. Nem que seja, para tornar o ar mais
leve e respirável. Nem que seja correndo o risco de arrostar com o opróbrio da
altivez. Há alturas em que o preço a pagar compensa o prelo da altivez.
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