15.11.17

A paródia da vida

Bauhaus, “Bela Lugosi’s Dead”, in https://www.youtube.com/watch?v=zq7xyjU-jsU    
Paródia, não como método que aligeira a contumácia que toma conta da vida, com os olhos simulando uma alegria que não indispõe e açambarca as tenebrosas raízes que ameaçam contaminação sombria. Não como humor catalítico, varrendo para os cantos escondidos as pútridas afeções que afeiam a existência, deixando em escombros a sede dos pesadelos tonitruantes.
Paródia, porque a vida é um riso constante – ou tem de ser um riso constante. Raras vezes, pelas causas que dão azo ao riso. Antes, porque ele há tantos sobressaltos, cercando de todos os lados, que mais vale deles fazer matéria risível. Não significa que sejamos fautores de alavancas quiméricas que transfiguram os pavores em matéria-prima de comicidade. Às vezes, o despautério roça os limites do impensável e, nessa medida, antes atirar do rosto um sorriso sarcástico do que um esgar pesaroso. Os zelotes do despautério só merecem o desdém. E o desdém afivela-se no sorriso sarcástico. São personagens risíveis. Merecem, em tratamento contundente, que lhes seja dedicado o desprezo de quem os acantona no exílio dos miseráveis, a quem a comiseração não é devida – para quem o sarcasmo é arma perfeita, pois de tão apedeutas nem lhes chega a ocorrer que são escarnecidos, impiedosamente escarnecidos.
Por latitudes destas, a vida é uma paródia pegada. Tem de ser paródia. Sob pena de se arrastar num diálogo desigual – um diálogo de surdos, pois não há como pôr em sintonia quem alinha em diferentes equinócios. A vida é uma paródia porque abundam os beócios. Na impossibilidade de os réditos públicos engordarem mercê de um tributo milagrosamente arrecadado na exata medida da necedade excessiva, sobra a hipótese do riso desbragado. Um riso mordaz, não contemplativo, sem dúvida intolerante. Um riso que transborda sobre o rosto apatetado dos beócios. Os dos pergaminhos meãos não merecem que o rosto se afunde na melancolia. Não merecem um quinhão de tamanho crédito.
O segredo está em mandar o riso farto ser a resposta aos beócios incorrigíveis. Nem que seja, para tornar o ar mais leve e respirável. Nem que seja correndo o risco de arrostar com o opróbrio da altivez. Há alturas em que o preço a pagar compensa o prelo da altivez.

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