Sigur Rós, “A Return to the
Origins of the World”, in https://www.youtube.com/watch?v=MRQwB_zBNSM
A linha do tempo costurada no desobstruído
obstáculo: envelhecem as folhas das árvores, empalidecidas sob a báscula do
outono. Preparam-se para a decadência que as há de locupletar dos ramos,
espalhando-as em restolho abundante, numa cama que disfarça a aspereza do chão
onde as folhas se deitam.
Antes que lá cheguem, vociferam uma
grandeza venal. Desmaiam na cor – dir-se-ia – quando o tom acobreado se deita
sobre elas; como se fosse o sol, entretanto timorato por ação da luz
estremunhada do outono, deitado em descanso sobre as folhas e elas não
mostrassem o presságio da decadência, mas a resplandecência de um sol de si frouxo.
Vacilam, já frágeis, quando o vento toma proporções e as despenteia em
coreografia que se assemelha a um grito lancinante de quem sabe que o chão não demora
a fugir sob os pés.
Diz-se: as folhas acobreadas são
caducas, estão fadadas à extinção assim que o vínculo filial se adelgaçar e as
folhas, amarrotadas e sem remédio, estiverem condenadas a encontrar precipício
no chão que as hospedar. Mas o que se diz, os lugares-comuns mandarins de uma
sabedoria só superficial, não entra em boa conta. As convenções estão
destinadas ao malogro – e não é por acaso que são convenções, limitadas à sua
desimportância.
As folhas acobreadas são o químico
sortilégio de paisagens dignas de pintores de primeira apanha. Os extensos
povoados de castanheiros devolvem o cobre à paisagem. Dando-se o caso de os
castanheiros serem fronteiros a um rio, os dias de vento ausente têm uma
prodigalidade singular: a mancha desmaiadamente amarelecida duplica-se,
reproduzida no espelho de água. É a natureza aristocrata, a sua generosidade:
como se não fosse suficiente o quadro bucólico da paisagem enxameada pelo
arvoredo transfigurado em suas outonais cores, os elementos conspiram para a
encomenda do vento para outros lugares: e eis que os olhos se arrebatam com a
paisagem deitada em seu avesso, na tela que é o rio aparentemente inerte.
Não: a tonalidade acobreada das árvores
não é o espantalho da morte em seu extravagante anúncio. As árvores
embalsamadas na outonal coloração são o festim que prova a bondade do outono –
a estação maior.
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