Trentemøller, “One Eye Open”
(live on KEXP), in https://www.youtube.com/watch?v=LS4tnuyDu9I
Que garraiada improvável, no apresto
sem custódia, entre circos sem palhaços e a vegetação devastada pela imperícia
dos desmazelados. Que risada franca, desabitada de preconceitos, a servir de
mote para o cálice farto erguido em brinde. Compõem-se os sois dourados por
entre a folhagem viçosa de árvores que resistem à decadência. Aprendemos com a
postura das árvores. Cuspimos o fogo não fátuo das palavras incensadas, como se
por nós fossem transgressões insondáveis os gestos desarmadilhados. Procuramos a
sede estouvada nos vinhos armilares, sem importarem as castas nem os
envilecidos procedimentos das colheitas.
Deitamos os olhos ao azulado céu e
somos testemunhas das cicatrizes nele causadas por aviões em sua demanda; não
cessamos de interrogar, em silêncio metódico, por onde se unem as pontas soltas
dos aviões enquanto trespassam o céu. É como andar nas ruas movimentadas de cidades
centrípetas, das cidades rumadas por turistas de andanças heterógenas, e sentir
nos rostos diferentes que vêm em contramão a fusão das culturas, um caldo
fervente de diversidade – o rudimento da riqueza maior.
Debatem-se os corpos contra o estertor
das ideias em contrafação. O colo desamparado não serve para elas. Os despojos
da história são ergástulo não edificante. Ferva-se o lamento sobre a não aprendizagem
dos homens. E desviem-se as atenções para a soleira onde nidificam as coisas não
perplexas, o murmúrio dos poetas, a vegetação luxuriante das florestas-refúgio,
as lágrimas brandidas contra a impostora indiferença. Prouvera a desassombrada
fonte vívida onde o hedonismo levita, o refrigério dos outros (ou em relação
aos outros), dos outros que não contam na aritmética autenticada. Desviemos o
olhar para os cantos lúgubres das vozes búlgaras, para a acintosa passeata de
um nascido homem que deixou de o ser, para a lógica dos prazeres inadiáveis, para
os gatos gordos em vadia deambulação, para o conhecimento do mundo e dos mundos
que nele se refugiam.
E deixemos o resto – o que desassossega,
o que embacia o sono em irrematáveis pesadelos larvares – à constrição do
garrote brasido. Pois nós permanecemos em nosso inacessível altar de gelo, na
combustão clara dos sentidos.
1 comentário:
Fantástico texto!
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