dB+PZ, “Cara de Chewbacca”,
in https://www.youtube.com/watch?v=g_w7evx-dXM
A feiura é sempre dos outros. Quem se
reconhece no ergástulo da sua feiura? Até porque os espelhos por que aferimos a
pessoal estética são amestrados. Interioriza-se uma beleza impossível de
replicar, quando só o património genético é irrepetível. Mas temos esta mania
irreprimível de escarnecer a fealdade alheia, sem cuidar de interrogar um
espelho (um imparcial espelho) como estão as nossas contas com o compêndio da
estética.
Este é um assunto em que os telhados são
de vidro porque é a transparência da nossa pessoa que manifesta a beleza (ou
falta dela). Como não é possível ficarmos sitiados num lugar isolado, sem
sermos vistos pelos demais, não há possibilidade de ocultar a pessoal beleza
(ou a sua ausência). Admita-se que o assunto esbarra no império da
subjetividade: o que a uns olhos parece fealdade, aos outros tolera-se no domínio
da beleza. Mas os telhados de vidro atuam como o espelho fidedigno da fealdade para
os que montam em tamancos e peroram, com elevadas doses de sarcasmo, sobre a
feiura alheia sem possivelmente anuírem na sua própria fealdade. O boomerang cuida da justiça retributiva:
antes não seja escarnecida a fealdade dos outros para não sermos os próximos a
cair na ingrata centrifugadora do juízo alheio que sobre nós faz abater os cânones
da fealdade.
A acrescer, a possibilidade de a implacável
censura conter em si um módico de fascismo social. Ele há algum mal em sermos
feios? É crime? Não pode um incontroverso feio conquistar amores a eito, apesar
da fealdade? Que se precatem os julgadores supremos, os que por tudo e qualquer
coisa ostentam um autoproclamado estatuto de superioridade moral, não venham a
ser apanhados nas malhas do politicamente incorreto de que tanto se dizem fiscalizadores.
Pois escarnecer da feiura não andará longe de escarnecer de uma deficiência, física
ou mental. E convém que os exímios verificadores de tudo e mais alguma coisa não
passem ao lado do essencial: não se deitem a alinhavar palpites sobre a
fealdade alheia, não vá o mesmo juízo sobre eles abater-se.
Nessa altura, para não caírem em
prolongada depressão (até porque, por uso e costume, têm-se a si mesmos em
muito boa conta), aconselha-se a prescindirem dos pessoais, amestrados espelhos
de trazer por casa, por manifesta inutilidade.
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