O edificado dá provas de ser sólido. Sem saber quem foi o arquiteto e os homens que levantaram o edificado, uma inspeção ao exterior deixa uma impressão da robustez. À prova de sismos e de outros cataclismos que a natureza, nos seus caprichos, espalha avulsamente para colocar os Homens à prova.
Os cálculos foram devidamente feitos. Por gente cadastrada para não se enganar nas contas. Os materiais, escolhidos a preceito pelos maiores conhecedores. Mesmo que um terramoto sacuda os alicerces, não é de esperar que eles caiam. E pese embora este não seja um lugar dado aos terramotos, os peritos não arriscam: é melhor prevenir a ocorrência e investir na resistência dos materiais, escolhendo só os de melhor cepa.
Podem vir a passar décadas a eito, talvez até séculos, sem que o lugar seja sobressaltado por um sismo que pode arrancar casas pela raiz. Podem as pessoas julgar que o investimento foi extravagante, dada a ausência de histórico de sismos e de outras ocorrências que teatralizam a vingança da natureza iracunda no Homem. Poderão protestar contra a usura de recursos, quando não havia justificação para tão excessiva prudência. Só se for por inábil desconhecimento da História. A estatística confia na imagem herdada dos tempos pretéritos. Mas a estatística está desligada do tempo futuro, esse de que ninguém sabe (nem sequer os que invocam a seu favor oráculos sem chão). A incerteza não é domesticável através das tendências do passado. Pois o futuro pode não ser apenas uma repetição do passado.
Os acasos não se aprovam se não houver quem os adicione no espartano diálogo das equações em que se entretece a prospetiva. É o “fator de risco”. A rebelde incógnita que nunca se faz anunciar. A incerteza que, nos seus termos catastróficos, será a pontuação errante de arrependimentos que se materializam depois da incerteza se traduzir numa catástrofe.
Tudo só será de pedra e cal se o pior dos cenários, por mais improvável que seja, for acautelado. Para não correr o risco de não ter sido precatado o risco que é inato à existência. E, depois, um caudaloso mar de lágrimas de crocodilo que se derrama na enchente de estéreis arrependimentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário