Não guardes o implausível para o dorso dos aplausos. As flores falam contigo, escondidas das sombras onde o mundo dança a decadência. Se nem os verbos puídos contracenam com o medo, é porque capitulámos na altura em que de nós eram esperadas as perguntas difíceis. Diriam: fugimos das perguntas difíceis porque as respostas não estão à altura; ou, por outras palavras, acabamos por descobrir que as respostas fáceis são o paradoxo acabado das perguntas difíceis. A pele pede um luar desembaraçado para poder entregar aos olhos um chão basalto. É o que precisamos para adestrar o pensamento sob a égide da temperança. Há quem se oponha: reclamam dos sobressaltos a matéria-prima para o arrevesar da alma, como se precisássemos de ir à lava fundente e deixar o magma falar por nós. Diz-se que é nos instintos que medra a espontaneidade. Diz-se: que devíamos ser desprovidos de verniz e devolver a diplomacia (o embuste perene dos falsários) à penumbra da antropologia. Não tiramos das medidas as baias das perguntas difíceis. A quimera pavoneia-se na orla do precipício e nós, como adolescentes inconscientes, fechamos os olhos e avançamos pelo fio fino que divide o abismo em dois. E prometemos: assim que abrirmos os olhos (só pode ser em terra firme), não deixaremos sem lugar as perguntas difíceis. Não nos interessam as respostas. Apenas formulamos as perguntas. À espera que as ruínas se esqueçam do passado e as mãos untadas de sede desçam ao poço onde as águas reparadoras esperam pelos corpos exangues. As manhãs são o rosto dos amanhãs que se emancipam das incertezas – o seu rasto. Não adiamos a coreografia em que se entretece a vontade. Ela não se dedica ao locupletar tardio das perguntas inofensivas. Fica por conta da dialética por desarmadilhar. É esse chão minado que as perguntas difíceis sabem ladear.
1.7.21
As perguntas difíceis (short stories #331)
Dry Cleaning, “Spoils”, in https://www.youtube.com/watch?v=wNqrABbRJGU
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