8.9.21

As coisas que não têm sentido e o seu sentido implícito

IKOQWE, “VaiVai”, in https://www.youtube.com/watch?v=E9-JjqQ75Nk

De acordo com a teoria geral dos paradoxos, há coisas que não reclamam um sentido ou uma lógica. São as coisas que escapam à teorização de tudo. Estão sob a lógica perpendicular que atravessa a inteligibilidade das coisas. Desse modo, enfeudam-se na lógica das coisas sem lógica. 

Perante as coisas sem sentido, as pessoas desistem de encontrar um sentido. Por definição, estabelecida em convenções que regem os comportamentos, são coisas a que não tem utilidade encontrar um sentido, porque esse sentido não faz parte da sua identidade. É da sua natureza não terem uma natureza. São terra de ninguém. Visíveis ou não, não se aceitam sob o beneplácito de uma lógica. As pessoas desistem delas. Não precisam que as pessoas se detenham nelas porque são ilógicas. E as pessoas só partem em demanda do que possa encerrar uma lógica.

Mas até as coisas que não têm sentido acabam por se reconciliar com um sentido. Nem que esse sentido seja a simples constatação da ausência de um sentido. Esse não sentido integra o sentido das coisas sem sentido. Elas acabam por intuir um sentido, ainda que não haja quem consiga apresentar as suas costuras. As pessoas andam mal se desistirem das coisas que as convenções impuseram como ilógicas. O seu não sentido corporiza a natureza própria destas coisas. 

É errado desistir das coisas sem sentido. Será empreitada hercúlea definir as costuras das coisas que escapam à lógica das coisas que têm sentido. Isso não pode determinar uma capitulação. Uma impossibilidade hoje não é uma garantia perpétua de impossibilidade. Muito do avanço da espécie é feito de descobertas que retiram das trevas uma determinada coisa. Esse pode ser o destino de qualquer coisa que hoje pertença às coisas sem sentido. É o módico do seu sentido. Um sentido potencial, porque os impossíveis só o são enquanto forem impossíveis. Não é uma condição que se ateste na sua perenidade. O impossível de hoje pode mudar de trincheira, tornando-se amanhã um possível.

Este sentido potencial impede que as coisas sem sentido não sejam cuidadas como podendo ter um sentido potencial no porvir. Esse é o seu sentido, implícito nas varandas do tempo que se abrem com as páginas vindouras ainda por revelar. A cegueira das pessoas, ou a sua insensibilidade perante as coisas sem sentido, é uma capitulação, uma fragilidade de quem assim se desentrega delas. 

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