São os paramentos que denunciam a condição. A voz afogueada que desmaia numa falsa serenidade. Dizem que não há foz para os rios rebeldes: do seu paradeiro não se diz nada, já não estão mapeados. Nada é insólito, ou sequer original. Tudo parece um torneio de lugares-comuns, em que as generalidades, entarameladas com banalidades, tomam conta do palco que a multidão quer frequentar. Em vez de peças de teatro que forçam o pensamento, preferem o pensamento afeiçoado. É menos custoso. Saber apenas dos meandros do conhecido é um nomadismo aceitável – sossegam-se em trejeito de sanação de hipotecas. As bandeiras visitadas são iguais às de antanho. Há anos que não inventariam palavras novas no vocabulário. As que desconhecem deixam estar nessa condição, abrir um dicionário é empreitada que exige consumições desaprováveis. Se pudessem repetiam os dias. Como se houvesse um ritual fixado em letra de lei e todos fôssemos cópia uns dos outros. Aos párias, o opróbrio geral em rima condenatória. Não se pode confiar em quem pensa diferente. O desalinhavo é doloso. Ferve numa sublevação distante que, se pudesse, desfazia os alicerces de tudo e dinamitava a argamassa que é conhecida de todos (e de que fazem bandeira). A previsibilidade joga-se contra eles e eles não sabem. A previsibilidade não é acautelada nas suas intenções. Não a admitem a jogo, são eles os tutores dos rituais que, de tão ensimesmados, já perderam a usura que se atribui aos rituais. Mergulhados no seu privativo abismo, exibem a falta de comparência ao mundo restante. Não é contratempo que os ilibe do sono. Por dentro da sua insalubre insciência, convencem-se que não é cadastro, mas sim exemplar nota curricular. Tão fadados para serem o que de si imaginaram ser, vivem a fugir da vida que não chegam a conhecer.
30.9.21
Déjà vu (short stories #362)
Limiñanas/Garnier (feat. Edi Pistolas), “Que Calor”, in https://www.youtube.com/watch?v=_hP3O-eVxJE
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