7.9.21

Não há perguntas sem resposta (até as que não têm resposta)

The Stranglers, “This Song”, in https://www.youtube.com/watch?v=5fMiCcPO5tY

Às perguntas refrangentes, o que fazemos? Elas ecoam no vasto vale das dúvidas e não há quem proponha uma resposta. Sem demora, dedos acusadores erguem-se por causa do silêncio: uma pergunta que ficou deserta de resposta equivale a uma fragilidade; o perguntante não soube dizer a resposta e essa é a prova da sua ignorância. Era preferível não ter elaborado a interrogação.

Tamanhas objeções, que têm ressonância a um implacável escrutínio, podem inibir as perguntas. Pois se há de haver alguém que anota cuidadosamente as perguntas e inspeciona, com igual critério, os lugares onde deviam aparecer as respostas, os perguntantes podem temer a sindicância porque não se pode pôr de parte a probabilidade de formular uma interrogação que não encontra resposta.

O que os meticulosos examinadores de perguntas desconhecem é que não existe uma regra, nem sequer consuetudinária, que obrigue a lavrar resposta por cada pergunta formulada. O exercício indagativo não é um percurso que leva necessariamente a respostas. Quantas perguntas não têm resposta e, contudo, não podem deixar de ser feitas? Ou, por outra: quantas perguntas deixariam de ser feitas por receio de não haver respostas? E quanto se perderia por travar a ascensão dessas perguntas?

As perguntas que não quadram com respostas não ficam órfãs. A ausência de resposta é a resposta a essa pergunta. O conhecimento não é infinito, tal como a capacidade de entendimento das variáveis que fruem numa pergunta. Se não se pudesse elaborar perguntas porque a matéria é invasiva do conhecimento, é como se houvesse uma mordaça a impedir a curiosidade do saber. Seria uma censura requintada, diligentemente vertida para aqueles domínios em que à formulação da pergunta pode não corresponder uma resposta. Seria o fim da filosofia. É preciso denunciar os que seguem o lema “não faças perguntas a que não sabes dar resposta”.

Se se perguntar algo e no silêncio houver resposta, esse é um silêncio comprometido: o silêncio constitui-se na resposta que equivale à não resposta. Uma não resposta (ou a ausência de resposta) também é uma possível resposta a uma pergunta. 

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